Uma Laranja Mecânica
Uma peça com música
De Anthony Burgess. Um espectáculo
da APA
A ideia de livre-arbítrio versus
predestinação, enquanto única forma
de atingir a humanidade do ser humano, é
para mim a questão central da peça. O protagonista
escolhe o mal como acto deliberado de liberdade espiritual
num mundo de conformismo radical, assumindo desta forma que
o bem está potencialmente mais presente num homem que
escolhe deliberadamente o mal do que num homem que é
forçado a ser bom. Os homens são o que são
e não podem ser forçados a ser qualquer coisa
por meio de pressões ou condicionamentos sociais. A
maturidade humana é-nos apresentada como capacidade
de mudar por si próprio, de aceitar a mudança
e de repudiar o passado. É uma visão perturbadora
sobre o controlo estatal que aniquila qualquer possibilidade
de redenção escolhida livremente. Reflecte duma
forma inteligente a relação entre o cidadão
e o Estado e obriga-nos a reflectir e a pensar.
manuel wiborg
(
) Deixo entrever aqui algum desânimo
a respeito da adaptação visual do meu livrinho,
e o leitor tem agora o direito de perguntar porque empreendi
uma versão dele para o palco. A resposta é muito
simples. É para deter o jorro de adaptações
amadoras de que me chegou notícia, embora nunca as
tenha visto. É para fornecer uma versão teatral
definitiva que tenha autoridade autoral. É, além
disso, uma versão que, ao contrário da adaptação
cinematográfica de Kubrick, abarca a totalidade do
livro, apresentando no fim um herói delinquente que
está agora em processo de crescimento, que se apaixona,
que inicia uma vida decente e burguesa com mulher e filhos,
e que nos consola com a doutrina de que a agressão
é um aspecto da adolescência que a maturidade
rejeita. (...)
Há três momentos que reclamam música da
minha autoria, ou de outra pessoa, mas o espírito de
Beethoven tem que estar presente o espírito
da maturidade criativa que sabe conciliar a criação
e a destruição. Não se trata aqui de
grande ópera. É uma peçazinha que qualquer
grupo pode interpretar, e é a minha despedida de uma
preocupação que persistiu demasiado tempo. Quero
dizer, uma preocupação escusada com um livro
que pertence definitivamente ao meu passado ao fim
e ao cabo tem um quarto de século e que eu preferiria
esquecer. Escrevi outros livros e, creio eu, bem melhores.
anthony burgess
Conversas com o público após
o espectáculo nos dias 27 e 28 (sala 2)
Título original A
Clockwork Orange A play with music
Autor Anthony Burgess (a partir da sua novela
com o mesmo nome)
Tradução José Lima (a
partir da edição da Methuen Publishing Limited
de 1998)
Encenação Manuel Wiborg
Música e Indicações Musicais Originais
Anthony Burgess
Adaptação, Arranjos e Orientação
Musical José Eduardo Rocha
Cenografia, Figurinos, Grafismo Luís Mouro
Desenho de Luz Pedro Marques
Fotografia Álvaro Rosendo
Elenco Ana Videira, Carlos António, Cláudio
da Silva, Hugo Amaro, Hugo Caroça, João Didelet,
Isabel Ribas, Luís Pacheco, Manuel Wiborg, Rui Raposo
Músicos Vasco Lourenço e Nuno Morão
(do Ensemble JER)
Direcção de Produção Manuel
Wiborg
Assistentes de Produção / Promoção
Patrícia Farinha Mendes, Rafaela Gonçalves
Assistentes de Encenação Cláudio
da Silva, Hugo Amaro, Hugo Caroça
Execução do Guarda-Roupa Ana Saraiva
Aderecista Francisco Soares
Animação João Morais
Contabilidade Triunconta
Uma co-produção Actores Produtores Associados
/ Culturgest
Apoios Cortecis, Iop Música, MGO-Borrachas
Técnicas, Siorto
Agradecimentos Artistas Unidos, Ana Saraiva, Eugénio
Pereira, Lda (Citel), Joaquim Canelhas
Companhia subsidiada por MC / IA
The idea of free will versus predestination,
as the only path to reaching the humanity of the
human being, is for me the key issue in this play. In a world
ruled by radical conformity, the protagonist chooses evil
in a deliberate act of spiritual freedom, thus assuming that
good is potentially more present in a man that chooses evil
deliberately than in a man that is forced to be good. Human
beings are what they are and they cannot be forced into being
something through pressure or social constraints. This is
a startling vision of state control, which annihilates any
possibility of freely-chosen redemption. It is an intelligent
reflection on the relationship between citizen and State and
it compels us to ponder and think.
manuel wiborg
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