Uma comunidade de leitores é, como o nome indica, um grupo de pessoas que, gostando de ler, gostam também de se juntar para falar sobre o que leram. Gostam de passar palavra sobre as palavras da escrita. Animar uma comunidade de leitores dá-me a oportunidade de escolher livros e de propor a outros a sua leitura e discussão. Não havendo em mim a mínima pretensão de “saber” literário, a oportunidade transforma-se em curiosidade, reforçada e múltipla, porque é com os leitores que surgirem na nova comunidade, que os “meus” livros crescerão por outros territórios e que o meu amor por eles sairá enriquecido e sairá até (pode acontecer) transformado.
Há livros de que gosto e que pertencem ao cânone sacrossanto da literatura; outros que me foram aconselhados, aqui e ali, por alguém da minha estima e que passaram sem nota pelo crivo dos donos do gosto literário; uns tantos ainda que, pelo acaso das esquinas dobradas, me escolheram a mim como leitora, sem razão aparente, sem sinal de modas ou de recensões. Concederam-me, todos, a graça de me trazer alguma dose de encantamento e de consolação. Fizeram-se, desse modo, meus. Melhor, parte de mim.
O título proposto, À Margem, fala do ângulo de aproximação que me apeteceu praticar nesta nova comunidade da Culturgest: a minha escolha de seis livros não pescou no leito principal do rio, antes reconheceu na sedimentação das margens o lugar perfeito para descobrir algumas pérolas, muito raras, inesperadamente encontradas na torrente dos aluviões onde se fixaram. Para se encontrarem comigo. Para que eu as conhecesse e as desse a conhecer. Como convosco farei.
maria joão seixas
18 de Janeiro
Nós Matámos o Cão Tinhoso de Bernardo Honwana (Ed. Afrontamento)
1 de Fevereiro
Luz Desarmada de José Augusto Mourão (Ed. Prefácio)
15 de Fevereiro
O Amor Natural de Carlos Drummond de Andrade (Ed. Record, Brasil)
1 de Março
Cá vai Lisboa de Alface (Ed. Fenda)
15 de Março
Mme de Staël, Dom Pedro de Mendonça, Correspondência (Ed. Quetzal)
29 de Março
As Coisas Mais Simples de Nuno Júdice (Ed. Dom Quixote)
A reading group comprises people who like reading and talking about what they read. Some of the books are works of “great literature”; others were suggested by people I admire but otherwise went ignored; some – as shown by the dog-eared corners – chose me for no apparent reason. Yet they all delighted or consoled me, and became “mine” or a part of me.
The title is the approach I wanted for the group: the six books are not from the mainstream, but from the banks, seen as a perfect place to find rare pearls, to meet and disseminate.
maria joão seixas
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