Pecados sem Conta
O que é “pecar”, hoje em dia, na nossa afluente sociedade ocidental? Como evoluiu a noção de “pecado”? Como encaramos os “pecados” numa altura em que se faz continuamente a apologia do prazer, se premeia a ganância, se enaltece a competitividade e se admira a arrogância?
Sabemos que a noção de pecado tem existido num contexto religioso, no âmbito dos dogmas da Igreja Católica, por exemplo, onde a lista dos pecados tem variado de acordo com os tempos. Aqueles que conhecemos como os sete pecados capitais, a gula, a luxúria, a preguiça, (principalmente interiores, “prejudiciais” para o pecador) a avareza, a ira, a soberba e a inveja (com consequências exteriores) foram enumerados pelo Papa Gregório, o Grande, no século vi, por S. Tomás de Aquino no século xiii e por Dante em A Divina Comédia no século xiv, mas já antes deles, Evagrius de Pontus, no século iv, referira pecados como a melancolia e o egoísmo, atitudes bem humanas mas nada convenientes nesses tempos em que a entreajuda era essencial para a sobrevivência.
Para nós, filhos e filhas dilectos (as) do Iluminismo e da crença na Razão, a Filosofia e o Pensamento sobrepuseram--se à crença, a Ética substituiu os dogmas religiosos. Com mais autonomia e mais responsabilidades, como separamos o Bem do Mal, como transpomos, para o nosso dia a dia, a prática da confissão e da expiação?
É na Literatura que podemos encontrar (algumas) respostas e, evidentemente, enunciar mais dúvidas. Os livros escolhidos para esta Comunidade serão um veículo para uma discussão acesa sobre todos estes conceitos à luz de hábitos e culturas muito diversos.
Dos hilariantes “pecadilhos” de Vic e Robin na farsa contemporânea de Lodge à megalomania de Sir Jack Pitman no livro de Julian Barnes, da exclusão social e moral no clássico americano do século xix de Hawthorne (quem peca mais, Hester Prynne ou a comunidade que a julga tão severamente?) até ao adultério de Lady Chatterley (de novo, será ela a maior culpada?), passando pelos horrores do colonialismo brutal e da guerra civil, respectivamente nas obras de Conrad e de Ondaatje, a questão do “pecado”, coloca-se com igual pertinência.
“Não há outro pecado além da estupidez”
oscar wilde
Quinta 27 Setembro
Um Almoço Nunca é de Graça, David Lodge, Ed. Gradiva
Quinta 11 Outubro
A Letra Escarlate, Nathaniel Hawthorne, Ed. Europa-América
Quarta 31 Outubro
O Fantasma de Anil, Michael Ondaatje, Ed. Dom Quixote
Quinta 15 Novembro
Inglaterra, Inglaterra, Julian Barnes, Ed. Asa
Quinta 29 Novembro
O Coração das Trevas, Joseph Conrad, Ed. Estampa (ou Ed. Europa-América)
Quinta 13 Dezembro
O Amante de Lady Chatterley, D.H. Lawrence, Ed. Europa-América
In the West today, what does it mean to “sin”? How did the idea evolve. Do we recognize “sin” now we are so dedicated to pleasure, when greed is rewarded and arrogance admired?
Sin in the religious context means a breach of moral laws, and thus the Catholic Church’s view of sinful acts has changed over time. The Seven Deadly Sins were once seen as important references. Selfishness was once also deemed a sin, when people needed each other’s help to survive.
In this Age of Reason, ethics have replaced religious dogma. But how do we atone, and separate good from evil? We will look at these questions through literature: e.g. Lodge’s Robyn and Vic, Sir Jack Pitman, Lady Chatterley, and the works of Conrad and Ondaatje.
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