| Folha de Sala (pdf) Classificação: M/16 Filmes apresentados em v.o. francesa |  | Foi uma sociedade específica e não uma tecnologia específica, que fez o cinema tal como é. Em vez disso, podia ter sido análise histórica, teoria, ensaio, memórias. Podia ter consistido de filmes como o que faço neste momento. Nada quero conservar da linguagem desta arte ultrapassada, nada a não ser talvez o contracampo do único mundo que observou e um travelling sobre as ideias passageiras de uma época.
 Guy Debord
 In girum imus nocte et consumimur igni
   O cinema ocupou um lugar central no pensamento e na prática de Guy Debord, na sua crítica das formas de representação e do papel social das imagens. As estratégias e modos de composição formal que caracterizam os seus filmes estão já contidos no seu primeiro gesto cinematográfico, o filme Letrista, Hurlements en faveur de Sade (1952) em que as frases ditas, “desviadas” do seu contexto original, e a poesia concreta, alternadas no ecrã branco (sonoro) e preto (em silêncio), contêm já o seu projecto para uma “dialéctica da desvalorização/revalorização” dos diferentes elementos em jogo e da negação do cinema tal como o conhecemos. Os filmes posteriores prolongam a prática da apropriação e montagem de imagens de fontes diversas (excertos de jornais filmados, filmes publicitários, filmes de ficção, imagens de banda desenhada, fotografias), de imagens realizadas por Debord, conjugadas com os textos escritos e lidos, igualmente desviados do seu contexto original (citações, textos do próprio autor) a que se acrescenta a utilização pontual da música que serve de contraponto lírico às imagens. As imagens utilizadas constituem ao mesmo tempo documentos e artefactos, contendo de forma imanente a sua própria crítica, em comentários sobre o cinema e os géneros cinematográficos, as combinações entre a imagem e o texto, as relações pessoais e sociais, a ideologia, a luta de classes e a política e o lugar do Homem na História e no sistema espectacular que expõe e critica. Os filmes de Guy Debord intensificam aquilo que na obra do seu autor reflecte um discurso sobre o potencial revolucionário da juventude, sobre a amizade, o amor, conjugando o lirismo e as suas reflexões sobre a cidade, o urbanismo e a arquitectura, num constante olhar retrospectivo sobre o exercício do seu pensamento. As obras cinematográficas de Guy Debord estiveram praticamente invisíveis, interditadas de qualquer projecção pública pelo próprio realizador, após o assassinato do seu produtor Gérard Lebovici em 1984. Disponíveis sobretudo na sua forma escrita numa compilação de textos e imagens organizada pelo autor, os filmes de Guy Debord foram recentemente disponibilizados de novo para circulação, o que permite que possa ser exibida, neste ciclo, a sua obra integral.Em complemento apresenta-se o filme Letrista L’Anticoncept de Gil J Wolman, de 1952, um dos mais importantes filmes de vanguarda do pós-guerra e influência determinante para Guy Debord. O filme vai ser apresentado no seu dispositivo original, projectado num balão sonda.   Comissário Ricardo Matos CaboAgradecimentos Centre Georges Pompidou, Mme. Charlotte Wolman, Jacques Le Glou
   Sexta 13 de Abril18h30
 Guy Debord, son art et son temps, 1994
 1h00, vídeo de Guy Debord, realizado por Brigitte Cornand, leg. em português
 21h30
 In girum imus nocte et consumimur igni, 1978
 1h45, 35mm, leg. em português
 Sábado 14 de Abril17h00
 L’Anticoncept de Gil J. Wolman, 1952
 1h00, 35mm, sem legendas
 Hurlements en faveur de Sade, 1952
 1h15, 35mm, sem legendas
 21h30
 Sur le passage de quelques personnes à travers une assez courte unité de temps, 1959
 18 min, 35mm, leg. em português
 Critique de la séparation, 1961
 19 min, 35mm, leg. em português
 La Société du spectacle, 1973
 1h20, 35mm, leg. em português
 Réfutation de tous les jugements, tant élogieux qu’hostiles, qui ont été jusqu’ici portés sur le film “La Société du spectacle”, 1973
 22 min, 35mm, leg. em português
   Cinema was central in Guy Debord’s thinking and critique of society. His films, finally available for public screening, reflect the different phases of his thought and influences. His filmic essays convey a particular poetics of “self-criticism” through the images and texts themselves, used as a commentary underlining his major concerns, be it the place of man in History, social and class relations or just the plain nostalgia of lost dreams and rememberance. |