Este é o terceiro concerto integrado no ciclo “Os Filhos de Abraão”, e o primeiro em que se interpreta música erudita.
Olivier Messiaen compôs as Visions de l’Amen em 1942, em plena guerra mundial, pouco depois de ter voltado para Paris vindo de um campo de prisioneiros alemão. Para ser tocado, como foi em Maio de 1943, por si e pela sua futura mulher, Yvonne Loriod.
Amen é uma palavra comum ao judaísmo (é de origem hebraica), ao cristianismo e à religião muçulmana. E nas três religiões tem sentidos semelhantes. Pode dizer-se, sem simplificação demasiada, que em regra significa a concordância com uma afirmação, ou a aceitação de uma situação e, nesse sentido, é uma afirmação de fé.
As “Visões” de Messiaen (como é sabido, um compositor católico que falava da sua fé através da música) referem-se a sete momentos. À Criação, ou ao acto que no início desfaz o caos, separando a luz das trevas. À criação de “as estrelas, os sóis e Saturno (…) que rodopiam numa vertigem desenfreada. Deus chama-os e eles respondem: Amem, estamos aqui” (nas palavras do compositor). À Agonia de Cristo que se conformou à vontade do Pai. Ao Desejo da paz do Paraíso. Ao coro dos Anjos e dos Santos transmitido através do canto dos pássaros. Ao Juízo Final, em que se separam os justos dos pecadores. À consumação do encontro com Deus no Paraíso.
A primeira parte do recital é composta por uma transcrição para piano a quatro mãos, do compositor húngaro György Kurtág, da obra de Heinrich Schütz, compositor barroco alemão, As Sete Palavras de Cristo [na Cruz]. A peça de Schütz foi escrita para um coro a quatro vozes, cordas e baixo contínuo, para ser tocada na Semana Santa. Kurtág, de origem judaica e ex-aluno de Messiaen, vai direito ao essencial dessa obra, desprezando não só a introdução e a conclusão, como todas as ornamentações ou repetições. E no entanto, essa formidável concisão é de uma enorme riqueza de emoções.
Miguel Borges Coelho nasceu no Porto, concluindo o Curso Superior de piano do Conservatório dessa cidade. Prosseguiu a sua formação na Alemanha e em Espanha. Ganhou vários concursos nacionais de música, tocou nos mais importantes auditórios e teatros portugueses e em numerosos festivais internacionais. Apresentou-se como solista com várias orquestras, e em recitais de música de câmara com, por exemplo, Michal Kala, Paulo Gaio Lima, Gerardo Ribeiro ou o Quarteto Talich.
Marta Zabaleta nasceu em Legazpi, em Espanha. Estudou no Conservatório de San Sebastián, no Conservatório Superior de Paris, na Escuela Supeiror Reina Sofia. Galardoada em prestigiados concursos internacionais de piano, colabora com numerosas orquestras do seu país e com a Orquestra Sinfónica de Berlim. Actuou, entre outros, com os quartetos Enesco e Ysaÿe, ou com o violoncelista Asier Pólo, com quem se apresentou no Carnegie Hall de Nova Iorque. Gravou para a EMI e para a editora suíça Claves.
programa
Heinrich Schütz 1585-1672 / György Kurtág n. 1926
Die Sieben Worte (Fragmenta) As Sete Palavras (fragmentos)
para piano a quatro mãos
Olivier Messiaen 1908-1992
Visions de l’Amen (Visões do Ámen)
para dois pianos
I Amen de la Création
II Amen des étoiles, de la planète à l’anneau
III Amen de l’Agonie de Jésus
IV Amen du désir
V Amen des Anges, des Saints, du chant des oiseaux
VI Amen du Jugement
VII Amen de la Consommation
The third concert in the “Children of Abraham” cycle is the first of classical music. The recital opens with Hungarian composer György Kurtág’s adaptation of The Seven Words of Christ on the Cross, by Heinrich Schütz, a German Baroque composer. Kurtág stripped away the introduction and conclusion as well as all the musical ornamentation and repetition, while leaving an enormous wealth of emotions.
This is followed by Olivier Messiaen’s Visions de l’Aamen, written during World War II. This focuses on seven moments: the Creation; Christ’s Agony; the Desire for Peace; the Choir of Angels and Saints; the Last Judgement and Meeting God in Paradise.
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