O que é o jazz, hoje? A pergunta está continuamente a ser feita, e até já foi estampada em t-shirts. Se nenhuma resposta definitiva apareceu, não é porque não exista, mas por serem várias e distintas as respostas possíveis, nenhuma necessariamente mais verdadeira do que as outras. Poucas músicas, aliás, têm um carácter tão plural, e é essa diversidade que procuramos retratar com este ciclo de concertos na Culturgest. O programa que propomos junta músicos norte-americanos e europeus, cada um deles com o seu background próprio e perspectivas bem diferenciadas sobre o género. Não se trata de um jazz apenas, mas de vários, em concordância com o estatuto de abertura, permeabilidade e constante mutação desta prática musical, propiciado pelos mecanismos de cooperação e troca que o próprio acto de improvisar em grupo implica.
Nos dias que correm, falar de free jazz, bebop ou outra qualquer subcategoria estilística do passado para classificar a música apresentada não tem mais relevância senão a de dar um enquadramento ou uma referência base ao que ouvimos. Há quem sustente que o não surgimento no jazz de uma nova frente organizada – uma nova vanguarda – se deve ao facto de não ter surgido ainda um paradigma que substitua os firmados nas décadas de 1940 e 60, mas o certo é que a sua condição presente é precisamente a particularidade de dispensar o uso de padrões fixos e estáveis, ou pelo menos o de misturar aspectos dos existentes. A própria noção de “vanguarda” implodiu – estar mais à frente, ou mesmo ao lado, nada quer dizer quando a verdade é que já não há um centro nevrálgico no jazz deste início do século xxi.
É certo que o jazz carrega com o peso da sua história, mas a tendência é para que esta não seja simplesmente reproduzida. Os conceitos herdados de Duke Ellington, Charlie Parker, Charles Mingus, John Coltrane e Ornette Coleman podem dar origem à fabricação do Novo, e a prova disso será dada nesta série de espectáculos. O fluxo do tempo é feito de permanente renovação, mas Nietzsche chamava-lhe de “eterno retorno”, porque sabia que o que vem detrás explica o que vai acontecer de seguida e o que está adiante é de alguma forma a consequência do que antes se verificou.
Trombone Ray Anderson
Contrabaixo Mark Helias
Bateria Gerry Hemingway
Comissário do Ciclo Pedro Costa
What is jazz today? There are many answers to that question, all equally valid, because few forms of music are so varied. These concerts at Culturgest aim to reflect that diversity, bringing together American and European musicians, each with their own background and departure point.
Nowadays, the old subcategories are of limited use, because there is no current stylistic paradigm to replace those of the 1940s and 1960s, but rather a mixture of existing features, or even no set pattern at all.
Jazz has a remarkable history, but musicians do not merely reproduce it. Instead, Ellington, Parker, Mingus, Coltrane and Coleman can be used to create something new, as these concerts will show.
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