Os Montes Apalache são uma das regiões musicalmente mais ricas dos Estados Unidos e desempenharam um papel essencial no despertar da investigação etnomusicológica do país. Constituindo uma barreira natural entre os estados ribeirinhos do Atlântico, os primeiros a serem colonizados, e tendo a expansão para o Oeste torneado a cadeia montanhosa pela Pensilvânia a norte e pela Geórgia e o Alabama a sul, a população essencialmente rural das montanhas viveu um relativo isolamento, praticamente até aos primeiros anos do século XX. Era designada, aliás, pelas populações das cidades circundantes de hilbillies, ‘os bills da montanha’, expressão que encerra um certo sentido pejorativo, sublinhando a rudeza da sua vida de montanheses e o seu afastamento da ‘vida civilizada’ urbana.
Colonizados a partir do século XVIII, sobretudo por emigrantes originários da Irlanda e da Escócia, os isolados montes Apalaches revelaram aos investigadores que os percorreram nas primeiras décadas do século passado um inesperado tesouro de cultura popular invulgarmente preservada, com expressões em todas as áreas e muito em particular na música.
É inteiramente detectável na música dos Apalaches a herança das tradições musicais irlandesas e escocesas – célticas, se se adoptar essa qualificação – embora denotem evoluções que se acentuaram com aculturações várias, incluindo a influência afro-americana devido ao afluxo de população negra procurando trabalho, especialmente nas minas.
Ira Bersntein iniciou a sua carreira enquanto estudante em Filadélfia, cidade onde existe uma activa comunidade de amadores e praticantes de old time music e outras expressões tradicionais, vindo a especializar-se no sapateado, a tap dance, sobre a qual desenvolveu uma exímia capacidade de execução simultaneamente com vastos estudos de todas as expressões, desde as afro-americanas às do musical, passando pelos cloggin e flatfooting dos Apalaches.
Com o virtuoso de banjo e cantor Riley Baugus, Ira organizou um interessante espectáculo com o título Appalachian Roots que constitui uma verdadeira viagem pelas canções e danças das montanhas Apalaches, talvez ainda hoje a mais conservada expressão do intercâmbio cultural entre as tradições europeias de há séculos atrás e as transformações verificadas na sua passagem à outra margem do Atlântico.
In music terms the Appalachians are one of America’s richest regions, and have been central to its search for its musical roots. The mostly rural mountain population – hillbillies, as the city dwellers termed them – lived a fairly isolated life until the early 20th century. The mountains were colonized mainly by Scottish and Irish migrants. Celtic traditions are evident in the music, but the Afro-American influence can also be heard.
Tap dancer Ira Bernstein and banjo virtuoso and singer Riley Baugus’s show is called Appalachian Roots – a veritable tour around Appalachian song and dance and a fine example of how American folk traditions are interwoven.
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