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Leituras · Quintas-feiras, 24 de Setembro, 8 e 29 de Outubro, 19 Novembro, 3 e 17 de Dezembro de 2009
18h30 · Sala 6· ?

Comunidade de Leitores
Confrontos, Guerras, Escaramuças. Por Helena Vasconcelos.


Eugène Delacroix, Luta de Jacob com o Anjo (pormenor)

Só os insensatos preferem a guerra; em tempo de paz, os filhos enterram os pais;
em tempo de guerra, os pais enterram os filhos.

Heródoto

 

Vivemos em guerras permanentes, verdadeiras e falsas, grandes e pequenas; entre países, raças, culturas, no seio de comunidades, de associações, de famílias. Lutamos contra os elementos, contra as políticas, contra a pobreza, contra a riqueza, contra quem amamos, contra quem odiamos e contra nós próprios. Nesta Comunidade iremos reflectir sobre as várias faces da Guerra ou, melhor ainda, sobre a Face das várias guerras, começando por aquela que nos é sugerida pela leitura de A Costa dos Murmúrios. Este é um dos três romances que abarcam um tempo “histórico” e que ocuparão a primeira metade desta Comunidade. Aqui, trata-se da Guerra Colonial que funciona como um cenário, uma respiração, uma espécie de doença que a todos aflige, embora de maneiras diversas. No entanto, o que verdadeiramente se passa está relacionado com confrontos entre géneros, com a subordinação sexual, as lutas de raças e de ideologias, as escaramuças contra o poder patriarcal e colonial. Acontece sempre algo semelhante em tempos perturbados por grandes mudanças, como em A Obra ao Negro, onde Zenão, médico e alquimista do século XVI, luta pela liberdade da acção e do pensamento, na passagem da Idade Média para o Renascimento. E, no século XVIII, Lillias Fraser, a menina dos olhos dourados e poderes sobrenaturais, escapa da Escócia para Portugal depois da mortífera batalha de Culloden.
Das Guerras públicas passaremos para as privadas em Love, onde uma luta implacável é travada entre duas mulheres por causa de um homem, Bill Cosbey, que já está morto no início da história. Christine, a neta, e Heed, a viúva, não admitem tréguas, apesar de serem da mesma idade, viverem debaixo do mesmo tecto e terem sido amigas na juventude.
Em Corpo Presente, conta-se a velha história das batalhas familiares. Desta feita, trata-se da dos Hegarty, os irlandeses com olhos de um azul intenso e alucinado, dados ao alcoolismo, ao humor negro e à tendência para a autodestruição. Há um corpo a enterrar tal como em O Mar, um romance sobre a luta contra o esquecimento, na memória eternamente incandescente de Max Morden, o homem que foi menino e salvo pela família Grace.
Em última instância, todas as lutas são contra a morte, embora se morra sempre (e se mate), lutando.
Helena Vasconcelos
Agosto de 2009

 

24 Setembro
A Costa dos Murmúrios
Lídia Jorge, Ed. Dom Quixote

8 Outubro
A Obra ao Negro
Marguerite Yourcenar, Ed. Dom Quixote

29 Outubro
Lillias Fraser
Hélia Correia, Ed. Relógio D’Água

19 Novembro
Love
Toni Morrison, Ed. Dom Quixote

3 Dezembro
Corpo Presente
Anne Enright, Ed. Gradiva

17 Dezembro
O Mar
John Banville, Ed. Asa

There are wars between countries, races, cultures, and within communities and families. At this event we will look at the many faces of war. The first half involves three “historical” novels. In A Costa dos Murmúrios set during Portugal’s colonial war, there is conflict over sexual subordination, ideological, race and power struggles. In A Obra ao Negro a 17th-century doctor fights for freedom of thought. In the 18th century, Lillias Fraser flees Scotland for Portugal after Culloden.
As for private wars: in Love two women fight over a man who is already dead. Corpo Presente covers the battles of a family with a penchant for drink, black humour and self-destruction. And O Mar tells of the struggle to remember.