Historicamente, somos os herdeiros de uma “ordem do livro” que conformou, durante séculos, o nosso campo cognitivo, cultural e político, ou seja, uma certa maneira de produzir saber, sentido e sociabilidade. As nossas representações, as nossas percepções e as nossas categorias foram, assim, dominadas por um conjunto de “fenómenos de longa duração”, desde a morfologia do códice à cultura do impresso, desde a identificação entre o livro e a obra até à noção de “função autor”. História longa do livro, portanto, que é, também, uma história da escrita, dos seus suportes, da sua transmissão, disseminação e recepção. É este conjunto de heranças sedimentadas que a emergência de uma sociedade de informação e em rede e o desenvolvimento das novas tecnologias digitais vêm pôr em questão: encontramo-nos num momento de transição para um novo paradigma em que se assiste a um desenvolvimento exponencial da produção de documentação e informação directamente sob forma digital e a uma progressiva digitalização dos conteúdos de uma cultura analógica e do impresso. Esta situação não pode deixar de afectar significativamente o modo tradicional de pensar a natureza e funções do livro, da escrita, da leitura e suas práticas, os modos técnicos de produção e de reprodução dos textos, as economias da autoria e edição e as formas de transmissão do saber.
José Afonso Furtado (1953) é Director da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste de Gulbenkian e Docente no Curso de Pós-graduação em “Edição: Livros e Novos Suportes Digitais” da Universidade Católica Portuguesa. É membro da Comissão de Honra do Plano Nacional de Leitura e autor de várias conferências, artigos e livros, designadamente O papel e o pixel. Do impresso ao digital: continuidades e transformações, Lisboa: Ariadne, 2007, também publicado no Brasil e em Espanha, e A Edição de Livros e a Gestão Estratégica, Lisboa: Booktailors – Consultores Editoriais, 2009.
2 de Junho
A longa História do Livro
16 de Junho
Novos suportes e mediação tecnológica
23 de Junho
Escrever, editar e ler na era digital 1
30 de Junho
Escrever, editar e ler na era digital 2
A Web social
Books have influenced our thought, culture and politics for centuries, producing knowledge, sense and sociability. Our representations, perceptions, and categories were thus historically dominated by a set of ‘long-term phenomena’. This is the inheritance that is now put in question by the emergence of an information society and the development of digital technologies. A new paradigm is emerging, characterized by an exponential rise in information created directly in digital form, and a progressive digitalization of content from analogue and print culture. This situation will inevitably affect traditional notions of the nature and functions of the book, of writing, and of reading. José Afonso Furtado is director of the Calouste Gulbenkian Foundation’s Art Library and lectures at the Portuguese Catholic University.
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