Em Uma Vaca Flatterzunge o compositor assume uma posição
denegatória e satírica em relação ao termo – recorre ao estereótipo
da ‘ópera bufa’, com emprego trivializado de diálogos e solos fora
do recitativo da ópera dita ‘séria’; insinua uma ‘ópera cómica’,
que, por seu turno, era uma comédia lírica entre o cantado e o falado;
é reminiscente da ‘opereta’, uma forma ligeira e sentimental, visando
o grande público e multiplicando os diálogos, peça fantasista, paródica
e burlesca, assume mesmo uma noção desconstrutiva do teatro musical
dando ênfase à parte instrumental, numa postura pós-modernista.
As personagens fazem parte dum imaginário esquizo, são representações
e simbolizações sociomusicais enredadas num mundo satírico, corrupto,
bizarro, assombrado pela ironia, despidas, comprometidas na simplicidade
do senso comum.
Rui Chafes criou para esta representação uma escultura sui generis
– um rochedo-vagina que flutua misteriosamente sobre todo o proscénio
como um objecto alienígena.
Ana Borralho e João Galante tomaram conta da coreografia prescrita
pelo compositor, Paulo Abreu imaginou líricas paisagens vídeo e
a surrealista indumentária e joalharia ficou a cargo de Ilsa D'Orzac.
Uma Vaca Flatterzunge é um fluxo de gestos criativos timbrados
pelo humor – incidentalmente, dentro da noção de music/performance
art – e pela qualidade inexcedível dos seus solistas internacionais
recrutados para esta exibição. A representação torna-se maravilhante,
rica, irradiando vida. Tudo se passa num mundo patético para-operístico,
num teatro absurdo de compositores, intérpretes e críticos/musicólogos.
Jorge Lima Barreto
Direcção artística Vítor
Rua
Composição, libreto e condução Vítor Rua
Assistente de direcção Ilda Castro
Direcção de movimento Ana Borralho e João
Galante
Cenografia Rui Chafes
Vídeo Paulo Abreu
Figurinos e joalharia Ilsa D'Orzac
Caracterização Jorge Bragada
Percussão Eddie Prevóst
Computador e electrónica Vitor Rua
Saxofones Daniel Kientzy
Tuba e trombone Giancarlo Schiaffini
Piano John Tilbury
Quarteto de cordas Quarteto Arabesco
Cantores Ana Ferreira, Hélder Bento, Marco
Alves dos Santos e Margarida Marecos
Desenho de luz e direcção técnica Carlos
Ramos
Desenho de som Francisco Leal
Realização vídeo-documentário João Dias
Produção vídeo-documentário OPTEC
Assistente de som de Daniel Kientzy Reina
Portuondo
Produção casaBranca
Co-produção Culturgest
Apoio OPTEC, Atelier RE.AL Projecto financiado
por Direcção-Geral das Artes/Ministério da Cultura
In Uma Vaca Flatterzunge the composer
makes satirical use of comic opera by trivializing the dialogues
and solos of ‘serious’ opera. The characters are part of a strange
imaginary world – socio-musical symbols caught up in a satirical,
corrupt, bizarre and ironic world.
For this performance Rui Chafes has created a singular sculpture
– a vagina-rock which floats mysteriously above the stage like an
alien object. Ana Borralho and João Galante are responsible for
the choreography, and costumes and jewellery are by Ilsa D'Orzac.
Uma Vaca Flatterzunge is a musical/performance art work
of creative movement and humour. A delightful show that is full
of life and absurdity.
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