Competentíssimo músico de estante e solista de mérito da Lincoln Center
Jazz Orchestra, dirigida por Wynton Marsalis, o saxofonista norte-americano
Ted Nash está desde há muito apostado numa carreira individual, liderando
formações instrumentais de constituição muito diversa para a concretização
de projectos musicais próprios e altamente individualizados. Para além
disso, foi membro fundador e elemento muito activo do Jazz Composers
Collective, um conjunto de músicos radicados em Nova Iorque, todos eles
instrumentistas e compositores de primeiro plano e que muito têm contribuído
para a renovação do jazz contemporâneo.
Entretanto, o projecto que Ted Nash vai apresentar neste concerto da
temporada de jazz da Culturgest distingue-se pela escolha de um repertório
que não é da sua autoria mas que saiu da talentosa pena de Henry Mancini,
um dos compositores mais importantes e prolíficos do cinema norte-americano,
com cerca de duas centenas de filmes no seu activo.
Mancini não deve apenas ser circunscrito à música para o cinema popular
ou mais ou menos sofisticado, como a série Pink Panther (iniciada
em 1963) ou Breakfast at Tiffany’s (1961) mas ainda como compositor
ligado a obras de maior fôlego na história do cinema, como a obra-prima
Touch of Evil (Orson Welles, 1958) ou ainda Charade
(Stanley Donen, 1963) e The Glass Menagerie (Paul Newman, 1987),
para apenas referir estes, ou mesmo a série policial televisiva Peter
Gunn, que ficou famosa na passagem dos anos 60 para os anos 70.
Interessante é que a ligação de Ted Nash às partituras de Henry Mancini
não é apenas de carácter musical mas também sentimental e familiar,
uma vez que o jovem Ted costumava frequentar os estúdios onde essas
bandas sonoras eram gravadas, porque das orquestras faziam parte o seu
tio e o seu próprio pai.
Enfim, um concerto que pode ser ainda reconfortante para o imaginário
e a memória cinematográfica do espectador.