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Vier5
Curadores: Dean Inkster, Jean-Jacques Palix, Lore Gablier e Pierre Bal-Blanc
Treatise
Cornelius Cardew, Treatise (1963-1967), p. 3

Sexta-feira, 14 de Maio
22h00 Cornelius Cardew: Treatise (1963-1967)
Concerto de Keith Rowe (guitarra eléctrica preparada, electrónica e vários objectos) com Heitor Alves (electrónica), Sei Miguel (pocket trumpet) e Vítor Rua (guitarra eléctrica)

Treatise, a obra-prima de Cardew, é uma partitura gráfica de 193 páginas, escrita no período em que ele tocou com o grupo de improvisação AMM. A notação gráfica – com as suas linhas intrincadas, os seus símbolos e figuras (em parte inspirados pelo facto de Cardew ter trabalhado como designer gráfico nesse período) – visava problematizar os limites da prática composicional. De facto, as decisões relativas ao tom, ao timbre e à duração, juntamente com a escolha dos instrumentos e o número de intérpretes, eram inteiramente deixadas ao critério de quem estivesse disposto a conceber as regras e os meios para a interpretação desta peça.


Keith Rowe (n. 1940) é um guitarrista e artista visual inglês. É consensualmente reconhecido como o “pai” da improvisação electroacústica. Começou por tocar jazz no final da década de 1950, quando era estudante de pintura numa escola de arte em Plymouth. Em 1965, foi um dos fundadores do seminal grupo de improvisação AMM, juntamente com Lou Gare e Eddie Prévost. Enquanto membro dos AMM, desenvolveu um estilo único e muito influente, pelo qual ainda hoje é conhecido, que consiste em tocar com a guitarra deitada numa mesa, incorporando numerosos efeitos e objectos encontrados. Foi um dos primeiros músicos a interpretar as partituras para improvisação Treatise e The Tiger’s Mind, que Cornelius Cardew desenvolveu durante a sua ligação ao grupo. Foi um membro muito activo da Scratch Orchestra, tendo influenciado a sua politização por volta de 1972. Em anos recentes, colaborou regularmente com músicos como Oren Ambarchi, Burkhard Beins, Christian Fennesz, Sachiko M, Jeffrey Morgan, Toshimaru Nakamura, Peter Rehberg, Taku Sugimoto, Howard Skempton, Christian Wolff e Otomo Yoshihide.


Heitor Alves (n. 1977) é um experimentalista, construtor, desconstrutor, produtor de ruído, designer de som e inventor. Desde 2000, tem estado envolvido em vários projectos, tais como Atom Size Elephant, Noizalicious e He & She. Produziu e interpretou música experimental e improvisada com e para crianças.


Sei Miguel (n. 1961) vive em Portugal desde a década de 1980. Enquanto director, arranjador e instrumentista, tocou com numerosas formações musicais em Portugal, na Alemanha, em Itália, no Reino Unido e no Brasil. A sua obra explora aquilo que ele descreve como “um universo de progressão artística e humana de potencial aparentemente infinito”. O seu instrumento principal é o pocket trumpet. Colabora regularmente com o músico Rafael Toral, o guitarrista Manuel Mota, a trombonista Fala Mariam e o percussionista César Burago. Escreveu música para teatro e ballet, e edita gravações da sua obra desde 1988. Entre os seus discos mais recentes incluem-se The Tone Gardens (2006) e Esfíngico: Suite for a Jazz Combo.


Vítor Rua (n. 1961) começou a sua actividade no final da década de 1970 com uma série de intervenções que mudaram a face do pop/rock português. Em 1987, num acto de determinação autodidacta, consagrou-se ao estudo da notação musical contemporânea. Desde então, a sua obra tem oscilado entre a improvisação estruturada e a composição estrita. Enquanto improvisador, tocou com figuras cimeiras do mundo da improvisação, como Chris Cutler, Elliott Sharp, Jac Berrocal, Carlos Zíngaro, Jean Sarbib, Evan Parker, Paul Lytton, Eddie Prévost, Louis Sclavis, Sunny Murray, Ikue Mori e Paul Rutherford. As suas composições foram interpretadas por Daniel Kientzy, John Tilbury, Ensemble QTR (Peter Bowman e Kathryn Bennetts), Ana Ester Neves, Frank Abbinanti, OrchestrUtópica, Bernini Quartet, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, Simon Cowen, ou Michael Strauss.

 

Walk
Michael Parsons, Walk (1969)
Performance dirigida por Lore Gablier, CAC Bretigny, 5 de Maio de 2009

Sábado, 15 de Maio (entrada gratuita)
16h00 Michael Parsons: Walk (1969)
Performance dirigida por Jean-Jacques Palix com cerca de cinquenta voluntários

Composta em 1969 para a Scratch Orchestra, Walk é uma partitura verbal para um número indeterminado de pessoas num espaço amplo. Interpretada pela primeira vez em Maio de 1970, no átrio da Estação de Euston em Londres, a peça consiste numa série de movimentos corporais simples (andar) e de repouso (ficar quieto). O seu ritmo e duração são determinados por um par de números, de 1 a 10, tirados à sorte, que são interpretados livremente por cada participante, de acordo com uma série de instruções elementares e igualitárias.


Michael Parsons (n. 1938) é compositor e músico, sendo considerado um dos pioneiros da música experimental em Inglaterra. Em 1969, foi um dos fundadores da Scratch Orchestra, juntamente com Cornelius Cardew e Howard Skempton. Actualmente, compõe sobretudo música para piano, para instrumentos de cordas e de sopro, e para grupos de percussão. Uma antologia das suas composições para piano, Piano Music 1993-2007, interpretadas por John Tilbury, foi recentemente editada por Mathieu Copeland.

 

Sábado, 15 de Maio
17h00 Carole Finer, Keith Rowe e Stefan Szczelkun, A Scratch “Dealer Concert”: obras de Howard Skempton, Christian Wolff e Stefan Szczelkun, entre outros

Após o concerto, os três antigos membros da Scratch Orchestra discutem as suas experiências na orquestra e o modo como esta influenciou as suas vidas e o seu trabalho ao longo de mais de quarenta anos.


Carole Finer é uma artista, compositora e música inglesa. Ensinou em várias escolas de arte, incluindo a London School of Printing, onde em 1968 deparou com um anúncio para aulas de música experimental. Nessa altura, ficou “assombrada” com espectáculos da Merce Cunningham Dance Company, tendo ingressado entusiasticamente nas aulas que Cornelius Cardew leccionava no Morley College. Subsequentemente, juntou-se à Scratch Orchestra, por altura da sua criação em 1969, actuando regularmente com a orquestra durante a sua existência. É uma exímia tocadora de banjo e uma entusiasta da música blue grass. Actualmente, apresenta um programa radiofónico, Sound Out, na emissora londrina Resonance 104.4 FM. Em Maio de 2009, apresentou Forty Years from Scratch, uma emissão-maratona de trinta e seis horas na Resonance FM, celebrando o quadragésimo aniversário da Scratch Orchestra.


Stefan Szczelkun (n. 1948) juntou-se à Scratch Orchestra quando esta foi fundada em Junho de 1969, influenciado por um concerto a que assistira, no ano anterior, do grupo de improvisação AMM. Devido ao sistema de funcionamento da orquestra, que dava prioridade aos membros mais novos na atribuição da responsabilidade de organizar os concertos e eventos, foi um dos primeiros membros a organizar um concerto da Scratch Orchestra, na circunstância o Richmond Journey, em Maio de 1970. Depois da sua experiência na Scratch Orchestra, prosseguiu tanto o seu envolvimento em colectivos de artistas, como o seu compromisso com a democracia cultural e a emancipação da classe trabalhadora. Na década de 1990, frustrado pela falta de documentação e de investigação sobre colectivos culturais, iniciou uma pesquisa, no âmbito dos seus estudos de doutoramento, sobre o “Exploding Cinema”, que desde então tem vindo a publicar na Internet.

 

Sábado, 15 de Maio
19h00 Projecção de excertos de filmes de Stefan Szczelkun, comentados por este artista e activista

Stefan Szczelkun irá mostrar e comentar excertos de vários filmes que realizou nos últimos vinte anos, documentando movimentos britânicos de contracultura e protesto, tais como Reclaim the Streets, Stop the City e Crystal Palace Eco-Warrior Camp.

 

Treatise
Cornelius Cardew, Treatise (1963-1967), p. 17

Sábado, 22 de Maio
17h00
1001 Scratch Activities
Performance de Loreto Troncoso e de António Júlio a partir da compilação de instruções verbais escritas pelos membros da Scratch Orchestra

Embora não tenham sido incluídas como uma “categoria” de música scratch no “Rascunho de Constituição” da Scratch Orchestra, as “1001 Scratch Activities” foram incluídas como anexo ao livro Scratch Music, de Cardew, publicado pela MIT Press em 1974. Com efeito, a sua origem é objecto de controvérsia entre os membros da orquestra. Ora concretas, ora abstractas, ao mesmo tempo improváveis e prosaicas, cada uma destas actividades “extramusicais” é descrita numa frase sucinta, frequentemente em poucas palavras, dispensando na maioria dos casos qualquer produção consciente de som. Olhadas com desdém pelos membros e compositores da Scratch Orchestra com maior cultura musical, elas deram origem frequentemente a “interpretações” imprevistas e anárquicas durante as actuações da orquestra. Contudo, como John Tilbury sugeriu, sendo uma iniciativa de grupo anónima e espontânea, elas representam, ainda assim, algo da própria essência da Scratch Orchestra enquanto colectivo de vanguarda.


Loreto Martinez Troncoso... nasceu em 1978...; partiu em 1999... recebeu uma bolsa... trabalhou com...; 2000 altamente recomendada por...; 2001 participou em... escolhida por...; 2003 considerada como artista francesa por...; 2004 comeu perna de galinha... colaborou com... participou em... considerada como “artista que trabalha em” para... por... contactada por... fez uma conferência em...; 2005 carta branca para... “recomendada” como artista “de interesse” por... para..., recebeu bolsa pela... para...; 2006 participou como “jovem artista galega” em... “artista recusada” no Salon du Jardin et de l’aménagement de l’extérieur... striptease em... em... e em... 2007 matou uma mosca no contexto de... tornou-se uma “projecção de vídeo” em... inapresenta-se em... tornou-se um modus operandi... 2008 partiu On the Road... a sua voz contava ou não contava... falou repetidamente durante exactamente três meses e sete dias em... e anunciou que a próxima vez seria uma comédia. Perdeu a sua boca em... 2009... pôs fim a... entre outras.


António Júlio (n. 1977) estudou Teatro na Academia Contemporânea do Espectáculo e fez o curso de Interpretação e Escultura na Faculdade de Belas-Artes do Porto. É intérprete de teatro e de dança desde 1999, tendo trabalhado com Joana Providência, Nuno Cardoso, João Paulo Costa, Cia Circolando, Kuniaki Ida, Rita Natálio, Francisco Alves, André Guedes, entre outros. O seu trabalho situa-se entre o teatro, a dança e a performance. Das suas criações mais recentes destaca 200 g (Mugatxoan, Arteleku, San Sebastián/Fundação de Serralves, Porto, 2006), Eunice (Teatro do Campo Alegre, Porto, 2007), Boots and Breath para a Companhia Instável (Espace des Arts, Chalon sur Saône, 2008), Recuperados (Porto, 2009) e Alan (Porto, 2010). Actualmente, é professor de Interpretação na Academia Contemporânea do Espectáculo.

 

Sábado, 22 de Maio
22h00
Cornelius Cardew: Treatise (1963-1967)
Concerto de Michel Guillet (sampler), Jean-Jacques Palix (computador), Marcus Schmickler (computador) e Samon Takahashi (dispositivo electrónico)

Lectures
Concerto de Piotr Kurek (computador)

Lectures foi composto inicialmente em 2007 para uma actuação ao vivo em Varsóvia, durante um festival de música dedicado a Cornelius Cardew, inserido no projecto Zakrzywienia Igly, organizado por Michal Libera. A ideia inicial de Kurek de interpretar peças de Cardew evoluiu para uma improvisação baseada em sons apropriados de várias gravações deste compositor, aos quais acrescenta diversos instrumentos. Com a ajuda de Walter Cardew, filho do compositor, Kurek teve acesso a gravações inéditas de conferências, concertos e ensaios dirigidos por Cardew. Este projecto foi editado em CD pela portuguesa Crónica Electrónica, em 2009, e para tal Kurek reelaborou as peças compostas para a actuação ao vivo.


Michel Guillet (n. 1961) é um artista e músico francês que utiliza diferentes media no seu trabalho, realizando desenhos de parede, instalações e obras sonoras. Compôs numerosas obras para coreógrafos contemporâneos, como Marco Berrettini, Claudia Triozzi e Sylvain Prunnenec. Também produziu dois discos: The End Between (2006) e Without Shade (2008).


Marcus Schmickler (n. 1968) é um produtor, compositor e músico alemão. É um dos músicos mais importantes que emergiram da cena de música electrónica de Colónia na década de 1990. Editou numerosas gravações de projectos a que deu nomes como Wabi Sabi e Pluramon, e colaborou com vários músicos, incluindo, mais recentemente, o pianista John Tilbury.


Samon Takahashi (n. 1970) é artista visual e compositor. Também produziu programas radiofónicos, colaborou com coreógrafos e realizou obras em vídeo. Grande parte do seu trabalho incide sobre os recursos de uma colecção de discos, questionando os seus modos de apresentação e uso.


Piotr Kurek (n. 1978) é um compositor e músico polaco que vive e trabalha em Varsóvia. Embora tenha estudado piano clássico e tenha actuado como percussionista, é conhecido principalmente pelo seu trabalho em teatro-dança e no campo da música electrónica. No final da década de 1990, foi um dos fundadores do projecto multiforme Slepcy, e desde então tem colaborado com várias editoras discográficas, nomeadamente Ambush (Londres), Kool.POP (Berlim), Cock Rock Disco (Berlim), Klangkrieg (Berlim), Unknown Public (Londres) e Crónica (Porto).

 

Capitol Records, c. 1962
Christian Wolff, Earle Brown, John Cage e Morton Feldman no estúdio da Capitol Records, Nova Iorque, c. 1962

Sexta-feira, 28 de Maio
21h30
Recital de piano por Christian Wolff
Precedido da interpretação de Stones (1968) e Burdocks (1972), deste compositor, por cerca de quinze intérpretes voluntários

“Transformar o fazer música numa actividade colaborativa e transformadora (o intérprete em ouvinte em compositor em intérprete, etc.), o carácter cooperativo na origem exacta da música. Incitar, através da produção da música, a consciência das condições sociais em que vivemos e do modo como estas podem ser mudadas.”
Christian Wolff

Primeiro concerto em Portugal de um dos nomes fundamentais da música contemporânea desde os anos 60. No final do concerto, terá lugar uma conversa com o músico e compositor.

Stones e Sticks, tal como as outras peças em Prose Collection, foram escritas para serem usadas por músicos não-profissionais, bem como por não-músicos, pessoas, pessoas com um interesse pela música, especialmente pela música experimental, suficientemente forte para quererem tentar interpretar algumas peças.”

“A origem de Stones... foi simplesmente esta: um dia numa praia pedregosa, durante o qual experimentei os sons que diferentes pedras produzem quando batem umas contra as outras, descobri que (os sons) eram surpreendentemente variados, distintos (e belos) nas qualidades das suas ressonâncias. Com a memória disso, escrevi a peça seis meses depois, e mostrei-a a Cornelius Cardew, que sorriu e me mostrou o Parágrafo 1 de The Great Learning, no qual estava a trabalhar nessa altura, e que inclui a utilização de pedras pelos membros do coro, para improvisar gestos sonoros guiados pelas formas dos caracteres chineses no texto de Confúcio em que aquela peça se baseia. Ele tivera essa ideia a partir das lajes de pedra afinadas que se usam na música clássica chinesa.”

Stones (1968)
Faça sons com pedras, extraia sons das pedras, usando diferentes tamanhos e tipos (e cores); a maior parte das vezes discretamente; por vezes em sequências rápidas. A maior parte das vezes batendo as pedras contra outras pedras, mas também as pedras contra outras superfícies (na superfície de pele de um tambor, por exemplo), ou sem as bater (tocadas com arco, por exemplo, ou amplificadas). Não parta nada.


Christian Wolff (n. 1934) viveu os seus primeiros anos na Europa, antes de se fixar nos Estados Unidos em 1941. Estudou piano com Grete Sultan, e composição, brevemente, com John Cage. Com formação académica na área da cultura clássica, ensinou música e literatura clássica e comparativa na Harvard University e no Dartmouth College. Compositor em grande medida autodidacta, a sua obra tem sido associada à de Cage, Morton Feldman, David Tudor e Earle Brown, celebrados conjuntamente enquanto Escola de Nova Iorque. É igualmente um activo intérprete e improvisador, e tem actuado ao vivo com numerosos músicos, incluindo Takehisa Kosugi, Christian Marclay, Steve Lacey, Keith Rowe, William Winant, AMM e Larry Polansky. É membro da Akademie der Künste, em Berlim, e da American Academy of Arts and Sciences.

 

Sábado, 29 de Maio
17h00
Cornelius Cardew: The Great Learning, Paragraph 5 (1970)
Performance dirigida por Lore Gablier, Annie Vigier e Franck Apertet
Com Emilie Bonnaud, Luis Corvalan, Thibaud Croisy, Sophie Demeyer, Dean Inkster, Déborah Lary, Clémentine Maubon, Stève Paulet e Santiago Reyes
Convidados especiais Horace Cardew e Walter Cardew

Composto para um número ilimitado de intérpretes, não necessariamente com formação musical, o Parágrafo 5 de The Great Learning começa com o que Cardew designou como “Dumbshow”. O “Dumbshow” consiste numa série de gestos corporais livremente derivados de um híbrido de linguagens gestuais dos índios americanos no século XX. Cardew concebeu estes gestos como uma tradução visual dos elementos caligráficos que compõem os caracteres chineses do quinto parágrafo do Ta Hio, de Confúcio. Ao “Dumbshow” seguem-se oito composições de notação verbal, cada uma precedida por uma recitação colectiva, em coro, da tradução de Ezra Pound do parágrafo de Confúcio. O “Dumbshow” e as composições seguintes são concebidas como exercícios de disciplina cuidadosamente preparados com vista ao objectivo último da peça: uma improvisação livre e colectiva.


Annie Vigier e Franck Apertet têm colaborado como coreógrafos desde 1994 sob o nome genérico les gens d’Uterpan. Ao longo dos anos, têm questionado as normas da dança e das artes performativas, tanto a partir do interior dos seus limites tradicionais (o palco), como para além destes (o espaço expositivo). As suas obras implicam uma redefinição da prática coreográfica e do papel correlativo do bailarino/intérprete. Apresentaram performances do seu projecto X-Event em diferentes partes do mundo, incluindo, em 2007, a Bienal de Lyon e, em 2008, a Bienal de Berlim, a Tate Modern e o Nam June Paik Art Center em Yongin, na Coreia. O seu projecto Re|action foi apresentado no Project Arts Centre em Dublin, em Outubro de 2009, e na Kunsthalle Basel, em Janeiro de 2010. São artistas residentes do Centre d’art contemporain de Brétigny (França) desde 2008.

 

22h00
Concerto por Walter Cardew Group (trio)
Horace Cardew (clarinete), Walter Cardew (guitarra eléctrica) e Androniki Liokoura (piano)

Programa:
1. Trio para clarinete, guitarra e piano
2. Trio para clarinete, guitarra e piano
3. Dueto para clarinete e piano
4. Trio para clarinete, guitarra e piano
5. Dueto para guitarra e piano
6. Trio para clarinete, guitarra e piano


Horace Cardew (n. 1963) estudou clarinete e saxofone na Royal Academy of Music, em Londres. Quando estava a terminar os seus estudos, ele e o seu irmão, Walter Cardew, juntaram-se à banda pop The Pasadenas. Tem trabalhado, desde então, como músico freelancer, com bandas de jazz e pop em Londres, assim como em produções teatrais. Tem estado igualmente envolvido em grupos de música contemporânea, incluindo a Matthew Herbert Band e o Danny Dark Group, de Walter Cardew.


Walter Cardew (n. 1965) estudou na Guildhall School of Music & Drama e no Goldsmiths College, em Londres, onde se licenciou em composição. Em 1984, depois de trabalhar como percussionista profissional com grupos pop, como The Pasadenas, formou com Stephen Moore o grupo Walter & Sabrina. Desde então, Walter & Sabrina editaram dez discos na editora do próprio Walter Cardew, Danny Dark Records, incluindo Rock ‘n’ Roll Darkness (2007), We Sing for the Future (2008) e Two Tales: The Twilight of Walter & Sabrina (2009). Integrado no Danny Dark Group, fez tournées no Reino Unido (incluindo o South Bank Centre, em Londres). Recentemente, voltou-se para a composição de música de câmara com o Walter Cardew Group.


Androniki Liokoura estudou piano no Conservatório Estatal de Thessaloniki, onde se licenciou em Harmonia, e no Trinity College of Music, em Londres. Deu numerosos recitais de música contemporânea em Inglaterra e na Europa, a solo ou em grupo. Em 2003, foi-lhe atribuído o prémio John Halford para música contemporânea. Em Janeiro de 2004, no âmbito do “John Cage Weekend” no Barbican Center, em Londres, participou numa interpretação colectiva, com a duração de dezoito horas, das Vexations de Erik Satie. Em Novembro de 2007, interpretou We Sing for the Future (1981), de Cornelius Cardew, no Festival Cornelius Cardew em Varsóvia. Em Novembro de 2008, após ter estudado várias fontes manuscritas de We Sing for the Future, Androniki editou essa partitura para piano solo, até então inédita.

 

destaque
Vista da exposição Cornelius Cardew et la liberte de l’écoute, Centre d’art contemporain de Brétigny, 2009
Esquerda: partitura de Octet 61 for Jasper Johns (1961) de Cornelius Cardew
Direita: partitura de Memories of You (1964) de Cornelius Cardew
© 2009 Steeve Beckouet

Sexta-feira, 18 de Junho
22h00
Cornelius Cardew: Volo Solo (1965)
Concerto de Rhys Chatham (trompete)

Volo Solo foi escrito por Cornelius Cardew em 1965, a pedido do pianista John Tilbury, para um intérprete virtuoso de qualquer instrumento. A partitura inclui uma série de sessenta “acontecimentos”, que diferem consideravelmente na sua duração e complexidade. Os acontecimentos, separados por uma pausa, vão de uma única nota ou de pequenos grupos de notas, até passagens longas que exploram toda a versatilidade do instrumento – a maior parte dos grupos mais longos caracteriza-se por cadeias de notas repetidas. Segundo o compositor, o intérprete deve empenhar-se em “tocar tantas notas escritas quanto possível, e tocá-las tão depressa quanto possível. O instrumento deverá parecer que se está a desconjuntar”.


Rhys Chatham (n. 1952) é um compositor, guitarrista e trompetista americano. Estudou com o compositor de música electrónica Morton Subotnick e, mais tarde, com o pioneiro da música minimalista La Monte Young, juntando-se ao Theater of Eternal Music de Young no início da década de 1970. Em 1977, começou a compor música em que combinava a influência do minimalismo e o seu interesse recente pelo rock. A sua composição Guitar Trio (1977), para baixo eléctrico, bateria e um número ilimitado de guitarras eléctricas, inspirou vários dos principais músicos nova-iorquinos, como Glenn Branca, e bandas rock como Band of Susans e Sonic Youth. Em 2002, a editora Table of the Elements lançou uma caixa retrospectiva da sua obra, An Angel Moves Too Fast To See: Selected Works 1971-1989. A cidade de Paris, onde vive desde 1989, encomendou-lhe a escrita de A Crimson Grail, uma composição para quatrocentas guitarras eléctricas, que estreou em Outubro de 2005 perante uma audiência de dez mil pessoas, na catedral do Sacré Coeur em Paris, e foi transmitida em directo pela televisão francesa, no âmbito do festival Nuit Blanche. Uma versão para duzentas guitarras de A Crimson Grail teve a sua estreia num concerto ao ar livre no Lincoln Center, em Nova Iorque, em Agosto de 2009.

 

Cornelius Cardew: The Tiger’s Mind (1967)
Concerto de Nina Canal (guitarra eléctrica e bateria), Nadia Lichtig (voz, electrónica) e David Watson (gaitas-de-foles e guitarra lap steel preparada)

The Tiger’s Mind foi escrito em 1967, ano em que Cardew concluiu a monumental partitura gráfica Treatise. Trata-se da primeira partitura de Cardew composta exclusivamente por notação verbal. A partitura divide-se em duas partes ou peças narrativas individuais: uma “Peça diurna” e uma “Peça nocturna”. Pretende ser um propulsor para uma performance explicitamente improvisada. Apesar de ter sido inicialmente concebida como um sexteto, em que cada músico escolhe uma das seis personagens narrativas (Amy, o círculo, a mente, o tigre, a árvore e o vento) como fio condutor musical, o número de intérpretes, a atribuição dos papéis e os métodos processuais são sugeridos, mas não são obrigatórios. Como Cardew afirmou, a partitura exige uma predisposição para tocar “no mais lato sentido da palavra, incluindo o mais infantil”.


Nina Canal (n. 1953) é uma artista visual e música. Nascida na Cidade do Cabo, na África do Sul, cresceu em Londres, onde estudou artes visuais. No final da década de 1970, foi viver para Nova Iorque, onde rapidamente se evidenciou como guitarrista e baterista na cena artística downtown, integrando grupos seminais “No Wave”, como Robin Crutchfield’s Dark Day e The Gynecologists, ao lado de Rhys Chatham e Robert Appelton. Em 1979, fundou com Jacqui Ham e Sally Young o trio UT. Conhecidos pela justaposição sem contemplações de harmonia e som corrosivo, os UT fizeram tournées com bandas rock seminais, como The Fall e The Birthday Party, e editaram uma série de álbuns – Conviction (1986), In Gut’s House (1988) e Griller (1989) – na editora Blast First. Vive actualmente em Paris, onde desenvolve o seu trabalho de pintura directa sobre tecidos.


David Watson (n. 1960) é um músico experimental da Nova Zelândia, que vive e trabalha em Nova Iorque desde 1987. Tocou com expoentes da música experimental nova-iorquina, como John Zorn, DJ Olive e Zeena Parkins. Conhecido numa primeira fase como guitarrista, passou em 1991 à gaita-de-foles das Highland. Recebeu várias encomendas de composições para gaita-de-foles, incluindo uma partitura para a Jeremy Nelson Dance Company, descrita pelo New York Times como “simplesmente maravilhosa”. Em Julho de 2007, juntamente com a violinista Jennifer Choi e o percussionista David Shively, estreou as composições para trio que Robert Ashley compôs em 1963, White on White. Editou numerosos discos, mais recentemente o LP The Shirley Jangle, pela Kraak Records, com Lee Ranaldo, Christian Marclay e Günter Müller.


Nadia Lichtig nasceu em 1973 na Alemanha, de pai checo e mãe sérvia. Estudou na École nationale des Beaux-Arts de Lyon, onde completou os seus estudos em 2000, e na École nationale supérieure des Beaux-Arts de Paris, em 2000. Ensina actualmente na École supérieure des Beaux-Arts de Montpellier. Expôs na Secession em Viena, no Palais de Tokyo em Paris e na Tadu Gallery em Banguecoque. O seu trabalho oscila entre documentário e ficção, e entre som e imagem, empregando diferentes media, nomeadamente instalação, fotografia, performance e som. O seu projecto mais recente, Falseparklocation, em colaboração com o compositor Christian Bouyjou, foi lançado com o título Tropical FM, na editora francesa Dokidoki, em 2009.

 

Sábado, 19 de Junho
21h30
Obras de Cornelius Cardew
John Tilbury palestra e recital de piano


John Tilbury (n. 1936) é um pianista britânico, considerado um dos mais importantes intérpretes da música de Morton Feldman. Estudou música no Royal College of Music e, posteriormente, em Varsóvia com Zbigniew Drzewiecki. Esteve estreitamente ligado a Cornelius Cardew, que escreveu Volo Solo para ele em 1965. Mais tarde, tornou-se membro destacado da Scratch Orchestra. As suas numerosas gravações discográficas incluem obras de John Cage, Morton Feldman, Howard Skempton, Christian Wolff, Cornelius Cardew e, mais recentemente, Terry Jennings. Enquanto improvisador, colaborou com numerosos músicos, como Sebastian Lexer, Jérôme Noetinger, Evan Parker, Keith Rowe, Marcus Schmickler e David Sylvian. É autor da biografia Cornelius Cardew (1936-1981): A Life Unfinished, publicado pela Copula em 2008.

 

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Sexta-feira, 25 de Junho
22h00
Terre Thaemlitz: Meditation on Wage Labor and the Death of the Album
Recital de piano

A nossa irreflectida demonstração de boa vontade (através de projectos e performances pro bono) é, em última instância, um acto de auto-sabotagem. A posição do artista inflamado, “a arte pela arte”, ofusca a questão do trabalho. O icónico artista atormentado que oferece o seu trabalho é uma excrescência, mas não o sabe. Se o facto de exigirmos pagamento pelo nosso trabalho significa que as industrias culturais entram em colapso, então que entrem em colapso. Talvez então pudéssemos finalmente começar a conceber a produção cultural em termos mais vastos do que a indústria. Ou, mais provavelmente, poderíamos vir a descobrir que não podemos existir sem essas indústrias que são incapazes de nos apoiar, tornando-nos à partida pateticamente irrelevantes. O que quer que aconteça, não estarei de luto.
Terre Thaemlitz


Terre Thaemlitz (n. 1968) é um reconhecido DJ, músico, compositor, artista visual, escritor, orador e pedagogo. Tendo nascido em Minnesota e crescido em Springfield, no Missouri, Terre Thaemlitz mudou-se para Nova Iorque em 1986, para estudar artes visuais na Cooper Union, onde se licenciou em 1990. A seguir aos seus estudos, Thaemlitz começou a sua carreira como DJ, com o nome DJ Sprinkles, no célebre clube nocturno nova-iorquino Sally’s II. Conhecido pela sua música “ambiente” de inflexão política, o seu trabalho combina criticamente temas relacionados com as políticas de identidade – género, sexualidade, classe, língua, etnicidade e raça – com uma crítica recorrente, de inspiração marxista, às condições socioeconómicas da produção comercial dos media. Como DJ Sprinkles, tem actuado na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. Colaborou com Jane, Bill Laswell, Laurence Rassel, Simon Fisher-Turner e com o conjunto Zeitkratzer. Está para breve a publicação pela B_Books (Berlim) de uma compilação dos seus escritos, Nuisance: Writings on Identity Jamming and Digital Audio Production.

 

Os curadores:


Pierre Bal-Blanc (n. 1965) é director do Centre d’art contemporain de Brétigny, situado perto de Paris, onde comissariou exposições de David Lamelas, Teresa Margolles, Rainer Oldendorf, Jimmy Robert, Roman Ondak, Markus Schinwald, Santiago Sierra, Franz Erhard Walther, Clemens von Wedemeyer e Arthur Zmijewski, entre outras. É curador da série de exposições internacionais La Monnaie Vivante/The Living Currency, uma análise contemporânea e histórica do corpo e das estratégias performativas nas artes visuais, na música contemporânea, no teatro e na dança, cuja última edição teve lugar na Turbine Hall da Tate Modern, em Londres, em 2008. Em 2009, comissariou a exposição The Death of the Audience na Secession, em Viena.


Lore Gablier (n. 1979) estudou na École régionale des Beaux-Arts de Valence, onde se licenciou em 2005. Em 2006, completou os seus estudos no curso de curadoria da École du Magasin, em Grenoble, onde co-comissariou o projecto Pas de côté, um programa de discussões e actividades focalizado em ideologias alternativas e empenho político. Em 2007, colaborou no livro Art conceptuel, une entologie, uma colectânea de arte conceptual publicada pelas Éditions Mix, e organizou o livro Popescu Chronicles, publicado pelas Éditions BC et Compagnie, ambos lançados em 2008. Desde 2008, é curadora associada freelancer em Le Générateur, um centro de arte que abriu recentemente em Gentilly, fora de Paris, onde organizou a primeira edição de frasq, um festival de performance, em Outubro de 2008. É actualmente coordenadora do curso de curadoria da École du Magasin.


Dean Inkster (n. 1964) é originário de Christchurch, na Nova Zelândia. Completou os seus estudos no Institut des hautes études en art plastique em Paris, em 1993, e na École du Magasin, em Grenoble, em 2000. Publicou diversos artigos e ensaios sobre artistas contemporâneos, como Hans Haacke, Felix Gonzalez-Torres, Rainer Oldendorf, Philippe Parreno, Liam Gillick ou Alejandra Riera. Co-organizou a antologia Radio Temporaire, publicada por Le Magasin, em 2000, e é autor de um livro sobre as fotografias de Valérie Jouve, publicado pela Hazan, em 2002. Co-comissariou, com Sébastien Pluot e Eric Mangion, Double Bind: Stop Trying to Understand Me, uma exposição em torno do tema da tradução na arte contemporânea, na Villa Arson, em Nice, que abriu em Fevereiro de 2010. Actualmente, ensina história e teoria da arte na École régionale des Beaux-Arts de Valence, em França.


Jean-Jacques Palix (n. 1952) é um compositor, compilador, arquivista e respigador de sons francês. Em 1981, depois de vários anos a produzir e a criar composições para a Radio France, foi um dos membros fundadores da influente Radio Nova. Desde a década de 1990, produziu obras sonoras para numerosos coreógrafos, como Daniel Larrieu, Brigitte Farges, Odile Duboc, Lionel Hoche, Yvonne Rainer, Alain Buffard, Georges Appaix, Dominique Brun, Charlotte Delaporte e Edwige Wood. Em 1992, criou o seu próprio estúdio de gravação e editora independente, Song Active Productions. Em 2002, produziu e realizou a versão fílmica de Lecture on Nothing, de John Cage, em colaboração com Eve Couturier. O seu filme This Disk is the Same as the Other (2009) foi recentemente seleccionado para o Tribecca Film Festival, em Nova Iorque.

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