Violoncelo Vincent Courtois Piano Sylvie Courvoisier Saxofones Ellery Eskelin
O simples enunciado de três nomes em plano de igualdade e pela ordem alfabética – e não de um trio liderado por qualquer um deles – diz já muito, porventura, da música que esta noite irá ouvir-se num dos derradeiros concertos da temporada de jazz deste ano, de produção exclusiva Culturgest. Entretanto, neste caso particular, mais do que jazz em concreto é de música improvisada que deve em primeiro lugar falar-se, o que não contrariando a habitual asserção de que o jazz é, também ele, música que parte do improviso, coloca apesar de tudo em plano mais destacado a expressão improvisada, como sendo aquela que melhor qualificará a música que ouviremos.
É certo que há vários matizes, várias nuances, no carácter improvisado desta ou daquela obra: poderemos estar perante música totalmente criada no momento de tocar e que, como tal, se vai formando como um todo, a partir de um aleatório organizado, pelo contributo simultâneo ou sucessivo dos vários músicos em presença; é também possível que parte substancial da música tocada no momento, embora não vertida em partitura, esteja pré-estabelecida ou pré-determinada na mente dos vários componentes do trio, bastando a sinalética quase imperceptível, até mesmo só a respiração, para que se desencadeiem os necessários entendimentos no sentido de que os vários discursos individuais, aparentemente dispersos, formem um corpo internamente coerente, embora moldado à medida que os músicos vão sendo ao mesmo tempo emissores e receptores; também haverá, muito provavelmente, composições previamente escritas, na sua quase totalidade ou em grandes passagens da sua exposição, ficando depois à iniciativa de cada um a justa medida em que a liberdade individual se exercerá mesmo dentro das baias relativas que a composição prévia determina.
Do que todos podemos estar certos, à partida, é que cada um dos instrumentistas que neste concerto irão desafiar-se mutuamente, em termos criativos, se encontram entre os mais reputados no campo da chamada música improvisada ou nova música, com Courtois e Courvoisier a tenderem mais para as margens do jazz e Eskelin a puxar dos seus galões para que, também de jazz, hoje se fale em palco.
It says a lot about tonight’s music that the artists, Vincent Courtois, Sylvie Courvoisier and Ellery Eskelin, are announced in alphabetical order – they are not a trio with a leader. For these three musicians, improvisation reigns. Certainly their improvisation has many nuances: the tune may be produced on the spot, coming together to form a single piece through the musicians’ simultaneous or successive contributions. Alternatively, passages may be unwritten but pre-set in the artists’ minds, to be triggered by a barely perceptible signal. There will probably also be scored pieces, which then partially give way to individual freedom.