Espectáculo em castelhano, com legendas em português e inglês
Quer participar como figurante neste espectáculo? Envie um e-mail para culturgest@cgd.pt
até 16 de Abril.
Às vezes não dizemos: “Vamos encontrar-nos”; dizemos: “Vamos tomar um copo.” Um texto representa outro texto. Esta peça é uma desculpa, uma representação. Serve-me para pensar um filme através da peça. O filme chama-se Uruguai e é sobre um diário íntimo que comprei por acaso a um cartonero em Janeiro de 2006. Foi escrito por uma rapariga uruguaia chamada Karina. Veio trabalhar para a Argentina como empregada doméstica, atrás de uma história de amor. Numa parte escreve: Tu és o Luis e eu não sou ninguém.” Qual é o limite da intimidade?
Em cena há dois actores e eu próprio para experimentarmos partes do filme. E como no cinema também há figurantes. Os figurantes representam ou fazem o trabalho de figurantes? E que fazem enquanto esperam para passar lá atrás numa cena? Dormem? Fazem palavras cruzadas? Escrevem um diário? Esperar também é trabalho?
Como a câmara no cinema que filma vários espaços, a peça move-se. Hoje representa-se num teatro, amanhã num campo de futebol de cinco, depois de amanhã num corredor da Faculdade. No cinema a cenografia é real?
Esta peça é a intimidade de um processo, é a encenação do meu caderno de notas para um filme. O teatro pode ser útil? Ou melhor: o teatro não deveria ser útil? E porque é que ainda assim a peça parece não servir para nada?
Gerardo Naumann
Gerardo Naumann escreveu e encenou Cosas (2002) e Emily (2006), que em 2008 a Culturgest apresentou numa loja de cozinhas em Alvalade. Fez ainda a dramaturgia de ¡Sentate! El zoostituto (2003, enc. Stefan Kaegi). Dá um seminário de argumento em Buenos Aires e deu aulas e workshops na Noruega, Irlanda e Alemanha. Com Nele Wohlatz realizou a curta-metragem Novios en el campo (2008). Como actor trabalhou com Mariano Llinás e Alejo Moguillansky.
O resultado deste jogo de espelhos é como a própria vida de Karina, na qual os momentos mais iluminados cedem o lugar aos mais desoladores e misteriosos. (…) O gestor desta complexa maquinaria sabe colocar situações dramáticas, sabe descodificá-las e sabe fazê-las vibrar em espaços não-convencionais.
Alejandro Cruz, La Nación, 18 de Novembro de 2009