Vemos dois camiões em viagem, onde cinco homens mantêm prostitutas contra a vontade destas. Os homens fazem as regras e o camião é o seu império.
O romance Que difícil é ser Deus! dos Irmãos Strugatski serve de inspiração para este espectáculo, examinado do ponto de vista da distância e responsabilidade divinas. Um infiltrado, que vê o que se passa mas não pode intervir, está presente como Deus, longe da alegria da criação, como observador dolorido. Até que o que há de humano nele prevalece, e tem de agir, mas conhecendo as leis sombrias do camião tem de usar os métodos deles: violência e destruição. Mostra-se o dilema da justaposição entre presença inactiva e vida activa num espaço confinado, questionando assim a própria posição do público. Objectos, pessoas e camiões reais num reality show onde estamos ansiosos por abandonar a posição do mirone. Permanecemos observadores ou tornamo-nos humanos?
Kornél Mundruczó nasceu na Hungria em 1975. Realizou Pleasant Days (Leopardo de Prata, Locarno 2002), Johanna (“Un Certain Regard”, Cannes 2005) e Delta (Prémio da Crítica FIPRESCI, Cannes 2008). No teatro começou por trabalhar com a companhia Krétakör (que apresentou A Gaivota na Culturgest em 2005), mas não tem um grupo próprio, concebendo os seus espectáculos com actores que se tornam parceiros criativos. Os seus últimos trabalhos são The Ice, Frankenstein Project e Judasevangelium.