Na definição etimológica da palavra “objecto” está contida a ideia de objecto como algo “que se dá a ver”, algo que existe ou que “está lá” para ser visto.
Vamos sentir falta de tudo aquilo de que não precisamos mostra-nos objectos do mundo. Entre esses objectos e quem os manipula há um efeito de ricochete, um movimento de revelação de sentidos outros, inesperados. Existe um triângulo entre esses objectos, quem os manipula e o espectador – uma tensão que empurra as margens das ideias e das sensações até à vibração dos símbolos. Perante estes objectos, as ideias são caminhos para outras ideias e, como em todos os caminhos, há troços que se abrem, apertam e bifurcam. Podemos percorrê-los com ritmos e respirações diferentes, como se os pensamentos ganhassem forma pelo modo como pulsam e se friccionam entre si. São objectos do mundo, em contacto e em curto-circuito, algures a caminho entre o lado material e o lado etéreo das coisas, entre o quotidiano e o onírico, entre o genérico e o excepcional. E, quem sabe, é nesse “trocar as voltas” ao mundo de todos os dias – esse mundo de objectos genéricos para produção, consumo e desperdício – que podemos tocar um outro lado das coisas.
Rita Natálio
Vera Mantero destilou esta parada inusitada após meses de leituras, visionamentos, audições, reflexões e conversas, em conjunto com os seus co-criadores Christophe Ives, Marcela Levi e Miguel Pereira. Vamos sentir falta de tudo aquilo de que não precisamos é um jogo de associações, por vezes explícito, outras críptico, lúdico ou desconfortável, tangível ou volátil. Despoleta várias questões, mas quase nenhuma resposta.