Projecto criado por Mira Billotte, os nova-iorquinos White
Magic têm sido das mais fascinantes entidades a trabalhar a forma, a tradição
e a progressão da canção anglo-saxónica neste novo século. Parecem preocupar-se
com todos os elementos – a métrica das frases, o desenho do ritmo, uma
nova reconversão harmónica de elementos vocais e instrumentais, a invenção
melódica – das suas construções musicais, numa era em que os aplausos
neste formato parecem chegar ao surgimento de cada meia ideia, quando
não aparecem através uma mimetização estética a que só podemos elogiar
o timing.
O seu trajecto público inicia-se com a discreta mas não menos interessante
banda Quix*o*tic, que abandona em 2003 para criar os White Magic, que
cedo editam dois EP’s marcantes – In Through the Sun Door e um
outro a meias com o grupo norte-americano American Analog Set. Está logo
desde o princípio do seu trabalho editorial a extremamente invulgar cadência
das melodias de Billotte, que fazem coabitar a abertura frásica da canção
jazz mais simultaneamente livre e objectiva (a Billie Holiday de Strange
Fruit), a espiral da música etíope de Alemayehu Eshete ou Mahmoud
Ahmed, ou a delicadeza gravitacional de Karen Dalton.
Dat Rosa Mel Apibus, pela Drag City, foi o primeiro registo em
longa-duração, e levou este amplo vocabulário para paragens psicadélicas
muito próprias, dando mais extensão e invenção de estúdio sem por nunca
perder a concisão da música White Magic. Foi já em 2007 que o fenomenal
EP Dark Stars saiu, contando com a participação e composição
decisivas do britânico Doug Shaw, que se manteve desde então como uma
espécie de escritor-adjunto do projecto – trouxe à banda mais soltura
e um contraste luminoso para toda a densidade enigmática e por vezes turva
de Billotte. No mesmo ano, Billote contribuiu para o estrambólico filme
I’m Not There de Todd Haynes, com a sua versão do original de
Bob Dylan As I Went Out One Morning.
2008 viu o lançamento pela Latitudes de uma peça, New Egypt,
versão quase definitiva do formato longo de canção desta primeira fase
dos White Magic.
Voltam, neste seu ritmo imprevisível de trabalho público e edições, mas
com imparável coerência e inventividade, a lançar um disco de média duração
durante este Outono, que deverá ser o centro desta actuação.
Formed by Mira Billotte, New York’s White Magic seem
to be concerned with all aspects of music –phrasing, rhythm, the harmonic
approach to vocals and instruments, and melodic invention. Mira first
came to public notice with the band Quix*o*tic, which she left to form
White Magic. From the outset she produced extremely unusual melodies,
reminiscent of jazz singing (e.g. Billie Holiday’s Strange Fruit)
blended with the Ethiopian music of Alemayehu Eshete or Mahmoud Ahmad
and the delicacy of Karen Dalton. The band’s first full-length CD was
Dat Rosa Mel Apibus, followed by the phenomenal Dark Stars
EP, with Doug Shaw on board.