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2010


Just what are the arts good for?
Afinal para que serve a arte?
BATTLE OF IDEAS EVENTOS SATÉLITE 2010
destaque
© Banksy
DEBATE
QUA 6 DE OUTUBRO
Debate em inglês, sem tradução.
Pequeno Auditório
18h30 · Entrada gratuita
Levantamento de senha de acesso 30 minutos antes do início da sessão, no limite dos lugares disponíveis. Máximo: 2 senhas por pessoa.

Just what are the arts good for?
Informações
21 790 51 55
culturgest.bilheteira@cgd.pt
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Organização Institute of Ideas (Londres) e Culturgest

 

O Institute of Ideas criou, desde 2000, um fórum para debate público, vivo e inteligente, sobre temas sociais complexos. Uma das suas iniciativas é um festival de dois dias, Battle of Ideas que todo os anos se realiza em Londres em finais de Outubro. Durante esses dois dias, dezenas de debates sobre os temas mais variados são realizados. Alguns especialistas introduzem a discussão que se alarga ao público. É, de resto, a participação do público nos debates o objectivo principal deste Festival.

Paralelamente o Instituto organiza Eventos Satélite em várias cidades do Reino Unido, de países europeus e da Índia e em Nova Iorque.

 

Este ano o Instituto decidiu organizar um desses Eventos Satélite em Lisboa, escolhendo a Culturgest para o acolher e co-organizar.

Vamos debater o tema “Afinal para que serve a arte?”, introduzido por:

 

Angus Kennedy, responsável pelas relações externas do Institute of Ideas, participante frequente na Battle of Ideas, interveio, na edição de 2009, no tema “Podem as artes salvar a economia?”

 

Augusto Mateus, Professor catedrático do ISEG, ex-Ministro da Economia, responsável pelo estudo “O Sector Cultural e Criativo em Portugal”, encomenda do Ministério da Cultura;

 

Jorge Silva Melo, encenador, dramaturgo, realizador de cinema, actor, fundador do Teatro da Cornucópia e dos Artistas Unidos de que é director artístico;

 

Miguel Wandschneider, curador, programador das exposições da Culturgest desde 2005.

 

O debate será moderado por Claire Fox, Directora do Institute of Ideas. Cada um dos intervenientes fará uma pequena introdução de cerca de 10 minutos, abrindo o debate ao público.

 

O texto que se segue, redigido por Angus Kennedy, dá o enquadramento ao tema.

As discussões contemporâneas sobre o valor da arte parecem estar muito afastadas da estética poeirenta da filosofia alemã ou da aristocracia de connaisseurs na História da Arte, que em tempos afirmaram saber aquilo para que serviam: o que era e não era uma obra-prima. Hoje, no entanto, enquanto países como a Grécia põem ilhas à venda para pagar a dívida externa, pressiona-se os artistas e as instituições para que justifiquem o seu valor. Com efeito, já há algum tempo que as artes invocam a contribuição importante que dão à economia enquanto parte integrante das indústrias culturais e criativas. O recente Livro Verde da Comissão Europeia defende que vivemos numa “nova economia digital” onde “o valor material é cada vez mais determinado pelo valor imaterial”: das artes tradicionais, assim como da indústria cinematográfica, dos jogos de vídeo, dos novos media, da televisão e da rádio, diz-se que têm valor enquanto produtos e expressões culturais. Num campo social mais vasto, sugere-se que as artes podem desempenhar um papel na regeneração urbana, ressuscitando zonas arruinadas pela morte das velhas indústrias. Há quem valorize as artes em função do impacto positivo que podem ter ao favorecerem a participação cívica dos jovens, afastando-os do crime e das drogas e tornando-os melhores cidadãos. Ao nível político, a diplomacia cultural representa uma razão para valorizar e exportar os melhores produtos culturais e pode até alimentar um sentimento de orgulho nacional, de pertença colectiva.
Se há quem rejeite este tipo de justificação instrumental das artes argumentando que a arte é simplesmente o que os artistas fazem ou o que os públicos apreciam – que a arte é inteiramente subjectiva e todos os juízos relativos –, existe também quem manifeste preocupação sobre o que acontece às formas artísticas mais difíceis de definir em termos do seu suposto impacto positivo. Tome-se como exemplo a frase famosa de W.H. Auden: “a poesia não faz acontecer nada”. Como deveremos então proceder para tentar responder à pergunta sobre se tem ou não algum valor? A poesia deve ou não receber apoio ou financiamento governamental? Ou, se é suposto valorizarmos as artes porque dão lucros ao turismo, deveria o director do Carnaval passar a dirigir o Museu de Arte Antiga? Mas então em quem é que se pode confiar para apoiar a arte que nos ofende ou incomoda? Por cada cidadão participativo que se cria com a leitura de grandes livros pode haver um revolucionário alienado ou um jovem deprimido.
Enquanto alguns continuam a bater-se pelo slogan “a arte pela arte”, pode isto querer dizer alguma coisa sem uma linguagem ou uma moldura que nos permita falar seriamente sobre as artes? Será suficiente para as artes deslocarem e perturbarem (e, já agora, confirmarem) as formas como vemos o mundo? Ou deverão antes passar a apresentar-se de algum modo como mais “úteis” de modo a justificar financiamentos e atenção? Precisamos das artes enquanto parte crucial do que significa ser civilizado ou não passam de um luxo para ser gozado quando temos dinheiro para isso? A arte presta para alguma coisa?
Contemporary discussions of the value of the arts seem far removed from the dusty aesthetics of German philosophy or the patrician connoisseurship of art historians who once claimed to know what they were good for: what was great art and what was not. Yet today, with a cradle of civilisation like Greece even considering putting islands up for sale to pay sovereign debt, the pressure is on artists and institutions to justify their worth. In fact, the arts have for some time made a claim for the important contribution they make to the economy as part of the cultural and creative industries. The recent European Commission Green Paper argues we live in a ‘new digital economy’ where ‘immaterial value increasingly determines material value’. The traditional arts, as well as the film industry, video games, new media, TV and radio, are all said to have value as cultural products and expressions. Claims are made that the arts can play a role in urban regeneration, bringing areas blighted by the death of old industries back to life. Some value the arts for their ability to engage young people with society - turning them away from crime or drugs – and making them better citizens. At the level of international relations, cultural diplomacy provides a reason for valuing and exporting cultural achievements, and may even foster a sense of national pride, of shared belonging.
Some reject such instrumentalism, arguing that art is simply what artists do or what audiences enjoy – that the arts are entirely subjective and all judgements relative. Others raise concerns about what happens to those art forms not so easily defined in terms of supposedly positive impacts. WH Auden famously said, ‘poetry makes nothing happen’. Should poetry receive no government support or funding? Or, if we are to value the arts because they bring in money from tourism, should the director of Lisbon´s Popular Festivals (Festival Popular) take over running the Museu Nacional de Arte Antiga? Who then can be trusted to support art that offends or upsets us? For every engaged citizen created by reading great literature, there may well be an alienated outsider or depressed youth.
While some continue to rally around the slogan, ‘art for art’s sake’, can this actually mean anything without a language that allows us to talk seriously about the arts? Is it enough for the arts to unsettle and disturb the ways in which we see the world, as well as, for that matter, to confirm them? Or must they rebrand themselves as somehow more directly ‘useful’ in order to justify funding and attention? Do we need the arts as a crucial part of what it is to be civilised or are they just a luxury to be enjoyed when we can afford to do so? Are the arts any good at all?