Está só ao alcance dos raros talentos do jazz um recital de piano-solo de grande duração. Instrumentista de impressionante destreza técnica, sabendo extrair do piano vários cambiantes tímbricos e assim criando os diferentes estados emocionais que só este instrumento nos pode ofertar, o pianista norte-americano Fred Hersch alcançou, sem dúvida, o estatuto desses raros, tendo já tocado em salas prestigiadas como o Carnegie Hall de Nova Iorque ou o Concertgebouw de Amesterdão. Transformando positivamente a variação e a improvisação jazzística num apaixonante estado de criação e composição instantânea, Hersch faz parte ainda daqueles eleitos para os quais o teclado pianístico se torna uma verdadeira orquestra e as peças que vai buscar à inspiração de terceiros se transformam em composições próprias, com uma marca de origem inconfundível. Grande cultivador das baladas, amplo conhecedor do variadíssimo repertório dos standards e compositor de grande e singular sensibilidade, não admira que, para além de dirigir formações instrumentais próprias, de muito diferente configuração, Fred Hersch tenha tocado ao lado de grandes figuras do jazz, como Stan Getz, Joe Henderson, Art Farmer, Toots Thielemans ou Jane Ira Bloom, entre tantos outros. De uma discografia volumosa e diversificada, alguns álbuns ficaram que retratam a multiplicidade dos seus interesses musicais: a trilogia Songs Without Words, Leaves of Grass (inspirado em Walt Whitman) ou Night and the Music, pertencem ao número dos mais inspirados.