Adaptação meticulosa do romance First Blood de David Morrell, que apresentou ao mundo um miúdo chamado Rambo a fazer uma guerra de um só homem contra um xerife e uma pequena cidade, Flooding with Love for the Kid é ele próprio uma guerra cinematográfica de um só homem. Apresentado na secção “Director’s Cut” do último IndieLisboa e rodado integralmente, por 96 dólares, num T0 de vinte metros quadrados em Manhattan, esta longa-metragem foi adaptada, realizada, filmada, interpretada, cenografada e montada por um homem. O actor e cineasta Zachary Oberzan, interpretando ele próprio as duas dúzias de personagens, criou este filme monumental e transgressor enquanto profissão de fé no engenho animal e no espírito triunfante do artista solitário sem dinheiro, sem recursos, sem nada. Uma corrida louca, violenta e compassiva através das colinas e grutas perdidas do Kentucky, este filme e o seu criador acolhem as suas limitações extremas e, ao fazê-lo, acabam por transcendê-las. Enquanto Rambo e o xerife Teasle se dão mútua caça nos bosques, o público é obrigado a redefinir a própria natureza da “suspensão da descrença”. O como e porquê de contar esta história são uma afirmação mais importante do que qualquer história. O filme pergunta: “O que é preciso para fazer um bom filme? Quanto dinheiro, quantos actores, quanto espaço? Pode-se fazer um grande filme narrativo sem nada a não ser o amor pela obra?” Totalmente transgressor e ao mesmo tempo pleno de acção e comovente, Flooding with Love for the Kid destrói todas as noções anteriores sobre o cinema de baixo orçamento com uma determinação tirada da investida furiosa do próprio Rambo.
A mania de Oberzan não tem limites. (…) Uma obra-prima de outsider-cinema.
David Cote, Time Out – Nova Iorque, Abril 2009
De uma eficácia desarmante, comovente até – um assalto de guerrilha à noção de que são necessários valores de produção elevados para contar histórias de forma cativante.
Ben Walters, The Guardian, Junho 2009