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2011


Comunidade de Leitores
O Riso e o Esquecimento
por Helena Vasconcelos
destaque
Thalia, musa da comédia. Pormenor do Sarcófago das Musas, que representa as nove musas e os seus atributos, no Museu do Louvre.
LEITURAS
22 DE SETEMBRO
13 DE OUTUBRO
3, 17 E 30 DE NOVEMBRO
15 DE DEZEMBRO
Sala 1
18h30 · Entrada gratuita
Inscrições até 15 de Setembro
(limite 40 pessoas) na bilheteira
da Culturgest, pelo tel. 217905155
ou pelo e-mail culturgest.bilheteira@cgd.pt.
Informações
21 790 51 55
culturgest.bilheteira@cgd.pt
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É uma verdade universalmente conhecida que o riso faz parte das expressões mais profundas e sérias do ser humano e que a comédia – como um dos géneros classificados por Aristóteles na sua Poética – surge com força renovada nos mais terríveis momentos de crise política, social, individual. E se a função da Literatura era a mimesis, ou imitação da vida, a comédia ao invés (ou como complemento) da tragédia tinha, e continua a ter, a árdua tarefa de recriar a existência com elevação e solenidade, ao mesmo tempo que faz despertar o riso. A “comédia” nem sempre esteve ligada aos mesmos pressupostos – Dante chama à sua obra-prima A Comédia no sentido alegórico da cosmogonia medieval – mas Geoffrey Chaucer e Boccaccio foram mestres na criação (século XIV) de personagens cómicas em inusitadas peripécias com o propósito de recriar a farsa como espelho do mundo. Essas figuras-tipo – o frade, o médico, o mercador, a “esposa”, a freira, etc. – foram utilizadas por grandes dramaturgos como Molière e Lope de Veja e por autores como Eça de Queirós e Machado de Assis que se encarregaram de zurzir violentamente os seus contemporâneos. Quanto a Jacobson e Heller vão também buscar atributos tradicionalmente “cómicos” – a viuvez em A Questão Finkler e a ingenuidade em Catch 22 – para demolirem a sociedade inglesa, especialmente a judaica, e a loucura assassina da guerra. Recuando para a Inglaterra isabelina, onde se seguia a distinção clássica – as tragédias acabavam mal e as comédias tinham um final feliz – Como vos Aprouver de William Shakespeare é um exemplo perfeito da “alta comédia” pela forma refinada como são tratados os temas das mudanças de identidade e confusão de géneros. Os mal-entendidos são também o catalisador de toda a acção em Ema, uma heroína com uma personalidade tão forte como a de Rosalind mas à qual Austen, com a sua capacidade para dizer sempre o contrário do que está implícito, atribui uma enorme falta de bom senso. A comédia é um género essencialmente democrático mas não deixa, por isso, de se revelar como indispensável. Os grandes tiranos, na sua solidão, sempre precisaram de um bobo para os obrigar a olhar a realidade do mundo, aquilo a que o filósofo Thomas Hobbes, referindo-se ao riso, chamou a “súbita glória” do ser humano.

 

 

Programa

 

Qui 22 de Setembro
Ema

Jane Austen, Ed. Europa-América

 

Qui 13 de Outubro
A Relíquia

Eça de Queirós, Porto Editora

 

Qui 3 de Novembro
A Questão Finkler

Howard Jacobson, Porto Editora

 

Qui 17 de Novembro
Memórias Póstumas de Brás Cubas

Machado de Assis, Ed. Dom Quixote

 

Qua 30 de Novembro
Catch 22

Joseph Heller, Ed. Dom Quixote

 

Qui 15 de Dezembro
Como vos Aprouver (As You Like It)

William Shakespeare, Ed. Campo das Letras, 2008

Laughter is one of the most profound and serious expressions of the human being, and comedy tends to reappear with renewed vigour in times of individual, social and political crisis. As the reverse (or complement) of tragedy, comedy has the difficult task of recreating existence with dignity and solemnity, while still making people laugh. In literary terms, “comedy” is not always based on the same premises: it is an essentially democratic, but nonetheless indispensable genre, with laughter providing what Hobbes described as the “sudden glory” of the human being.