Que Joe Morris é um dos mais originais guitarristas da actualidade é algo que repetidamente se tem afirmado. Foi como guitarrista que se apresentou em duo com Barre Phillips aqui na Culturgest, também integrado no ciclo “Isto é jazz?”. Mas o seu trabalho como contrabaixista é igualmente notável, abrindo a personalidade musical desta figura cimeira do jazz de hoje. É com o contrabaixo que o encontramos no seu Wildlife Quartet. O nome da formação diz tudo quanto ao que se propõe: tocar um pós-bop não domesticado por formalismos, de estruturas abertas e expressividade livre, e tão cru na energia quanto lírico nas motivações.
Consigo, Morris tem um frequente compagnon de route, o saxofonista alto Jim Hobbs. A cumplicidade entre ambos é tal que dificilmente funcionariam do modo que lhes ouvimos se não fosse um com o outro. Mas porque esse especial entrosamento poderia resultar algo securizador para o grupo, e demasiado familiar para nós, seus ouvintes, Morris foi buscar como segundo sax (alto e tenor) o jovem checo Petr Cancura, igualmente excepcional nas suas capacidades, e com uma abordagem bem distinta da, regra geral, partilhada pelos sopradores norte-americanos. Com ele, Joe Morris sabe que não há qualquer possibilidade de se resvalar para situações óbvias – nesse aspecto reforçando a heterodoxia de Hobbs – ou para desfechos já propostos por outros. É isso também, de resto, o que lhe proporciona Luther Gray, um antigo baterista punk cuja visão das métricas e das texturas jazzísticas nada tem de convencional.
Contextualizado o Joe Morris Wildlife Quartet na presente vaga que tem recebido a designação de free bop, o certo é que o caminho que está a percorrer se destaca por tudo o que tem de específico. Nesta paragem em Portugal perceber-se-á ao vivo – a melhor forma de se apreciar esta música, digam o que disserem os discófilos – o porquê da fama que o precede e de todas as diferenças que introduziu na cena jazzística.