O nosso dia a dia está cada vez mais poluído por mensagens rápidas e curtas. O que não é intenso e recortado, não se afirma. A sensação de estar, e sobretudo estar sem tempo, está cada vez mais alheada de nós. Vivemos num mundo povoado de informação e ao mesmo tempo em risco de permanente ignorância.
Não nos damos o tempo de parar, respirar e continuar a estar. Sentimo-nos constantemente compelidos a avançar em direcção a algo. Quer essa coisa seja absolutamente vital para nós, ou completamente inútil. As frases curtas dominam, e só elas parecem ser efectivas. São os tempos do buzzword e do sound bite. Tempos em que a devoção está cada vez mais desligada de cada gesto que fazemos. Tudo é reduzido à noção de tarefa, tudo tem de ser fácil e lógico.
Filament(o) é um grito silencioso contra este massacre e contra as constantes imposições a que somos submetidos. Ainda temos os nossos corações para sabermos o ritmo a que devemos viver, e como devemos viver. Não precisamos de nos atirar contra o limite de nós próprios a cada momento. Temos de devolver o tempo ao tempo. Filament(o) é a minha resposta face a esta lógica implacável. Uma resposta que não é linear, que não é curta, nem rápida, nem fácil. Uma resposta que é tudo o contrário, tendo o ouvido e o ouvir como formas de chegar a uma melhor compreensão do mundo e de nós próprios.
Vitor Joaquim
Vítor Joaquim é improvisador electrónico, compositor e artista media. Formou-se em cinema nas áreas de som e realização. Criou para dança, teatro, instalações e multimédia. Apresenta-se regularmente ao vivo um pouco por toda a Europa, ora a solo ora em colaborações diversas com criadores das mais variadas áreas.
vitorjoaquim.pt
Sobre o ciclo
No seu poema An Anna Blume, Kurt Schwitters referiu-se em 1919 aos “vinte e sete sentidos” da sensorialidade – se tal pareceu então o delírio de um visionário, é finalmente uma realidade neste tempo de derrube das fronteiras entre as artes.
Já não há nichos criativos, apenas diferentes campos de acção artística que cada vez mais se encontram e se entrecruzam.
Integrando os mundos do som, da imagem e/ou do movimento, e adoptando em simultâneo os formatos de instalação e de performance, a série “Vinte e sete sentidos” abre as portas da percepção e da sinestesia.