Existe, na arte do nosso século, mais do que na dos antecedentes, alguns momentos decisivos. Sob este aspecto, o nosso século tem afinidades com o século XV. Assim, em certos momentos, objectos extraordinários marcaram pontos decisivos, ‘pontos de não retorno’. Houve momentos em que as perguntas foram formuladas e as respostas dadas. Quando estas questões são colocadas de um modo claro, não é possível voltar para trás. As respostas são ‘incontornáveis’, não é possível torneá-las. Os resultados são irreversíveis.
Pontus Hulten, Territorium Artis (cat. de exposição), Bonn, Verlag, 1992.
A epígrafe que escolhi para apresentação de uma série de quatro conferências dedicadas à arte contemporânea (que, no início do século XXI, restrinjo, prudentemente, ao século XX) salienta o seu traço distintivo: acelerando acontecimentos que se avolumaram ao longo do século XIX, os artistas iniciaram, por volta de 1900, uma ruptura irreversível em relação às heranças recebidas do passado. Contestaram o valor da aprendizagem (muitos dos mais famosos raramente frequentaram as Escolas de Belas-Artes) ou seja, os exercícios de cópia e os seus procedimentos técnicos, os conceitos de belo e de conveniência, as expectativas dos encomendares e do gosto comum e, muito rapidamente, os campos determinados das diferentes disciplinas artísticas que permitiam distinguir, com segurança, a pintura, a escultura, o desenho e a ornamentação.
Estas questões serão abordadas, primeiro em perspectiva geral, depois em alguns enfoques e detalhes que, mais do que as narrativas da história da arte, visarão o confronto aberto com a extraordinária diversidade de objectos e situações artísticas.
Raquel Henriques da Silva é professora de História da Arte e Museologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Foi directora do Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea (1993-97) e do Instituto Português de Museus (1997-2002).
Programa
10 de Março
Grandes rupturas (1900-1920)
17 de Março
Alargamentos territoriais (1960-70)
24 de Março
Metáforas e citações
31 de Março
Obras-primas da Colecção da Caixa Geral de Depósitos