DE 25 DE FEVEREIRO
A
13 DE MAIO DE 2012
Inauguração:
24 de fevereiro, 22h
As esculturas e pinturas de Michael E. Smith (Detroit, 1977) encerram um sentido de catástrofe que, numa primeira aproximação ao trabalho, não sabemos exatamente a que atribuir. Feitas com objetos comuns gastos pelo uso, e por vezes tornados irreconhecíveis, as esculturas parecem dar testemunho de uma violência extrema e irreparável que sobre esses “corpos” se abateu. Construídas com materiais industriais, muito distantes dos materiais tradicionais da pintura, as superfícies das pinturas monocromáticas parecem ter sido massacradas, mortificadas, calcinadas. O modo rarefeito como o artista instala os seus trabalhos no espaço expositivo mais acentua essa impressão de ruína, de abandono, de perda. Se soubermos que Michael E. Smith cresceu e ainda hoje vive em Detroit, uma cidade devastada pela degradação acelerada e por uma pobreza endémica, resultantes da falência dos setores industriais tradicionais, e em especial da indústria automóvel, encontramos aí uma chave de leitura fundamental para o seu trabalho enquanto sintoma do trauma associado a uma realidade social e económica (de que Detroit é o exemplo extremo) que desmente, à frente dos nossos olhos, as ilusões e os mitos dos Estados Unidos da América (das sociedades pós-industriais em geral) como lugar de oportunidades e de bem-estar partilhados. E se soubermos que o artista teve, desde muito novo, uma forte imersão na cultura hip-hop, ficamos na posse de outra chave de leitura importante para entender a combustão criativa, algumas referências oblíquas e as atitudes que se expressam no seu trabalho. Michael E. Smith expõe na Culturgest na sequência da sua exposição em 2010 na Galeria KOW, em Berlim, que deu a conhecer o seu trabalho na Europa, e nas vésperas da sua participação na Bienal de Whitney, em Nova Iorque, um indicador apenas, entre outros, do crescente interesse que o seu trabalho tem vindo a suscitar na cena artística internacional.
The sculptures and paintings produced by Michael E. Smith (Detroit, 1977) encapsulate a sense of catastrophe that, on our first encounter with his work, we are unable to work out exactly where it stems from. The rarefied way in which he installs his works further accentuates this impression of ruin, abandonment and loss. Knowing that the artist lives in Detroit, a city devastated by the rapid decline and endemic poverty resulting from the collapse of its traditional industrial sectors, in particular the automobile industry, we can find there the key to a fundamental reading of his work as a symptom of the trauma associated with a social and economic reality that, before our very eyes, contradicts the illusions and myths of the USA (and of post-industrial societies in general) as a place of shared opportunities and well-being.