Tal como a sua música, João Alegria Pécurto tem vindo a revelar-se com extrema parcimónia e sem quaisquer pressas. Com olho na descoberta, Pécurto desenvolve na guitarra acústica peças de uma beleza transparente, de rendilhados ternos e hipnóticos que se vão sobrepondo em sucessivas camadas. Suspendem-se no tempo, como se convidassem à reflexão sem nos atirar quaisquer conjeturas à cabeça. Gravado em casa com aquela calma que só o lar pode proporcionar Um lugar de silêncio, para que tudo cante na tua ausência foi o disco que abriu o caminho para o músico, numa altura em que se esperam novos registos para breve, de um nome ainda por descobrir convenientemente.
Encontro tão improvável quanto grandioso de dois músicos com background distinto, mas igualmente respeitável. Norberto Lobo é, sem sombra para qualquer dúvida, um dos músicos mais essenciais em tempos mais ou menos recentes da música feita em Portugal. Guitarrista extraordinário, que já há muito deixou para trás quaisquer coordenadas externas (que tanto passavam pelo legado de John Fahey como pelo fantasma de Carlos Paredes) para chegar a uma linguagem única. Carlos Bica é um daqueles jazzmen notáveis que, apesar de ver o seu trabalho reconhecido lá fora, mantém sempre elos de ligação com a música portuguesa – traçando, nesse ponto simbólico, um paralelismo com Norberto Lobo. Prodígio de técnica e sensibilidade sem paralelo no domínio do contrabaixo, Bica é dono de um currículo magnânimo que nunca se sustém nos seus próprios méritos, deixando espaço aberto para uma reinvenção contínua. Ninguém pode prever aquilo que se pode passar quando figuras como estas dialogam entre si, mas será com certeza um daqueles acontecimentos a deixar marcas profundas em todos os que estiverem presentes.