Charlemagne Palestine é um decano compositor, performer e artista visual. Nos anos 60 estudou música eletrónica com Morton Subotnick na New York University, teve aulas de raga vocal com Pandit Pran Nath (o primeiro emissário da música clássica indiana no Ocidente), tendo também ingressado na Columbia University e no Mannes College of Music. Até final dessa década produziu trabalho que demonstra um compositor em maturação, evocando a escola dos sacerdotes eletrónicos do decisivo círculo de Darmstadt, mas leal à matriz da sua lógica imprevisível em performance de chaos out of chaos, que amiúde confundiu distintos associados da comunidade Fluxus que o convidavam para colaborar com ele, as artes plásticas no geral e no particular, ou até o próprio John Cage. Em 1970 partiu para a Califórnia e estudou na profícua Cal Arts. Ao regressar em 1973 a Nova Iorque, tornou-se badalado na cena da downtown pelos seus longos recitais ao comando de um grand piano Bösendorfer, aplicando a abordagem única que desenvolveu de strumming para piano, geradora de uma multiplicidade de harmónicos de extensão inaudita. Tem sido nessa via de tonalismos infinitos e hipnóticos, a vários níveis decorrente do minimalismo, que Palestine se tem focado para as suas composições. Contudo, e ainda mais no fulcro de todas as suas operações pluridisciplinares, fica um trabalho pan-religioso, ritualista para lá de qualquer teologia específica (o Sr. Palestine é, provavelmente, o judeu que tocou em mais órgãos de igrejas católicas no mundo), que procura orquestrar várias práticas ritualistas, no sentido do paganismo mais benigno. De Strumming Music, passando por Schlingen Blaengen, ao seu fulcral filme Island Song, e até concerteza a esta atuação, encontramos no trabalho deste incatalogável e indestrutível artista uma enorme coerência e união de meios e ideias que define o seu trajeto humano e artístico.
Filho Único