Uma característica comum têm os músicos portugueses Gabriel Ferrandini e Pedro Sousa com o sueco Johan Berthling: partilham a sua dedicação ao jazz e à música livremente improvisada com um descomplexado gosto pelo rock indie e pelas práticas eletrónicas de dança mais inteligentes. Não estranhará, pois, que esta inédita combinação em trio sob o signo da composição espontânea integre elementos desses outros universos musicais, em manifestações assumidamente trans-idiomáticas, isto é, transversais a vários géneros e estilos de criação sonora.
Nesse âmbito, haverá que contar com outra particularidade: todos os três improvisadores são jovens e o que tocam evidencia a sua idade. Se não é rock (música “adolescente”) o que se propõem fazer em conjunto, a perspetiva que têm das suas próprias práticas é necessariamente jovem. O que daí resultará só poderia ser fresco, rebelde, atrevido e desalinhado. Uma oportunidade a não perder por quem está cansado do mesmo, dia após dia…
Gabriel Ferrandini
Nasceu em Monterey, na Califórnia, filho de pai português natural de Moçambique levado em criança para o Brasil e de mãe brasileira com ascendência italiana que se mudou para os Estados Unidos em plena adolescência. Começou a tocar bateria aos 13 anos. Primeiro frequentou a Crescendo, em S. João do Estoril, depois foi para a escola do Hot Clube e finalmente transitou para a Academia dos Amadores de Música, onde teve Alexandre Frazão como professor. Interessou-se inicialmente pelo punk e pelo ska. Depois interessou-se pelo drum‘n’bass, pelo jungle e pelo hip-hop, ao mesmo tempo em que ia descobrindo o jazz. Com um estilo pessoal que se situa entre Paul Lovens e Paal Nilssen-Love, tem os bateristas Elvin Jones, Tony Williams, Billy Higgins, Roy Haynes e Max Roach como os seus heróis. É membro do Red Trio, do Rodrigo Amado Motion Trio e dos Nobuyasu Furuya Trio e Quintet, além de manter duos com Pedro Sousa, Pedro Gomes e David Maranha. Tocou com músicos como John Butcher, Nate Wooley, Jason Stein, Alberto Pinton, Rob Mazurek e Carlos “Zíngaro”, entre outros.
Pedro Sousa
Interessado desde a adolescência pelas práticas musicais das franjas, e com formação como autodidata, começou por integrar o grupo de música eletrónica OTO, no qual utilizava samplers e guitarra elétrica. Com os saxofones tenor e barítono tem-se multiplicado por uma série de projetos, como Falaise (com Hernâni Faustino), Pão (com Tiago Sousa e Travassos), Acre (com Filipe Felizardo e Gabriel Ferrandini), Eitr (com Pedro Lopes), Canzana (com Bruno Silva) e duo com Luís Lopes. Afirmou ele: «À luz de todos os acontecimentos que nos têm afetado de uma ou de outra maneira, o mero ruído de fundo, que parecia ser já um trauma inato da sociedade moderna, tornou-se tão gritante que nos rebentou com os tímpanos e o equilíbrio. Vivemos em torpor social, parasitados e afetados. Este pseudo-pacifismo apático afasta-nos de toda uma verdade e o caminho para esta passa por uma questionação interna diária. Chegada é a altura de decidir se carregamos o testemunho até ao fim ou se desistimos.»
Johan Berthling
Nasceu na capital sueca e formou-se no Conservatório Real de Estocolmo. Tem percorrido os caminhos do jazz, da música improvisada e do rock alternativo, ao lado de figuras da primeira linha como David Stackenas, Sten Sandell, Fredrik Ljungkvist, Paal Nilssen-Love e Raymond Strid, entre muitos outros. Foi um dos fundadores do grupo de pop experimental Tape, que depressa alcançou um estatuto de culto, dada a original forma como associa instrumentos acústicos com eletrónica digital. Tornou-se num dos mais requisitados contrabaixistas (e baixistas elétricos, tocando ainda teclados e guitarra) da cena escandinava. Integra o trio de free jazz-rock Fire!, liderado por Mats Gustafsson, com este tendo desenvolvido uma colaboração com o mais insigne “renascentista” da atualidade, o sempre desconcertante Jim O’Rourke. Certo, certo é que é tomado como um símbolo da polidiversidade do músico contemporâneo.