“Não é a altura de afirmar nada. Tudo deve permanecer oculto na sua pura inanidade (e unanimidade) inabordável. Este respeito absoluto é a condição de uma possível germinação futura e a única mediação de um enigma que se confunde com a própria respiração do construtor. O construtor está dentro de uma parede diáfana entre dois vazios. O que poderá levá-lo a romper esse muro de vidro é a sua concentração num ponto em que a negação do exterior se pode converter na comunicação com o mundo. É neste convívio com a sua própria criação que o construtor encontra a palpitação primeira dos corpos e do seu próprio corpo. A textura mais secreta é o silêncio e é ele o principal fundamento da construção invisível. Tudo será construído no silêncio, pela força do silêncio, mas o pilar mais forte da construção será uma palavra. Tão viva e densa como o silêncio e que, nascida do silêncio, ao silêncio conduzirá.”
João Silva (Lisboa, 1973) artista multidisciplinar, tem desenvolvido variadas colaborações em projetos de música experimental, improvisada e performance desde 1988. Explora fotografia e vídeo em contextos de performance, instalação e vídeo arte, nomeadamente com Carlos Santos, com quem tem a mais prolífera e cúmplice parceria.
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Sobre o ciclo “Vinte e sete sentidos”
O século XX começou com o visionarismo de um punhado de artistas que ambicionava ter uma intervenção sinestésica, envolvendo os olhos, os ouvidos, o olfato, o paladar, o tato. No seu poema An Anna Blume, Kurt Schwitters referiu-se mesmo em 1919 aos “vinte e sete sentidos da sensorialidade”. Finalmente derrubadas as fronteiras entre as artes, neste início do século XXI vai-se pretendendo lidar com a totalidade da perceção humana. A série “Vinte e sete sentidos” apresenta alguns dos caminhos que estão a ser percorridos rumo a esse velho ideal…