Direção artística e coreografia Cláudia Dias
Interpretação Cláudia Dias Texto Cláudia Dias e Cátia Leitão (a partir dos livros Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos, de Tony Judt e Portugal – ensaio contra a autoflagelação, de Boaventura de Sousa Santos) Cenário Eric Costa Desenho de som João Samões Luz e direção técnica Carlos Gonçalves Música América do Norte, Seu Jorge Professora de Pilates Maria João Madeira Professores de Samba Carmen Queiroz e Pedro Pernambuco Direção de produção Mónia Mota e João Samões Tradução Terry Parsons e Mónia Mota Produção Os Três Caracóis – Associação Cultural Coprodução deSingel internationale Kunstcampus e Culturgest Apoio/Residências Dance Ireland, Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, Espacio AZALA Agradecimentos Anselmo Dias, Paulo Mota, Idoia Zabaleta, Jorge Feliciano, Célia Fechas, Karlien Meganck, equipa do Fórum Cultural José Manuel Figueiredo e Assim Ser – Associação Intercultural Brasílica de Portugal
Cláudia Dias é uma artista apoiada pela Modul-dance
Os Três Caracóis – Associação Cultural tem o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian
Se eu ficar aqui, sempre no mesmo sítio, as coisas irão passar por mim em vez de ser eu a passar pelas coisas. O tempo irá passar lento, rotineiro, disciplinado e eu com ele à deriva… Como se não houvesse gravidade que me conectasse a um chão, a um território. Como se fosse aterritorial e apátrida na minha própria terra. Como se o país fosse um lugar distante, ao qual não pertencesse, do qual não fizesse parte. Como se não tivesse nada a dizer. Aqui, de boca cerrada, em silêncio, de plástico, a meter tudo no mesmo saco. Os fracos, os fortes, a amizade e o utilitarismo, o apetite e a fome, a violência, a insurreição, a Revolução de Jasmim e a acampada do Rossio, os direitos, os privilégios, o pontapé na cona e o Hermitage La Chapelle, a exclamação, a vertigem, a igualdade e o discurso sobre, a Costa da Caparica e as Bahamas, a esquerda, a direita… Tudo igual. Tudo no mesmo saco. Como se não pensasse. Como se eles pensassem por mim. Como se fosse inevitável que eles pensassem por nós. Como se a inevitabilidade fosse uma lei da física. E me restasse apenas aceitar, resignada, o eterno retorno de passar pelas mesmas coisas, uma e outra vez. Como se a existência acontecesse e não me visse. Eu, discreta, à paisana na vida. Como se estivesse a ser agida.
Cláudia Dias foi intérprete no Grupo de Dança de Almada, integrou o coletivo Ninho de Víboras e colaborou com a Re.Al (2001/2009), tendo sido uma intérprete central na estratégia de criação de João Fiadeiro e no desenvolvimento, sistematização e transmissão da Técnica de Composição em Tempo Real tendo sido assistente em diversos workshops de Composição em Tempo Real e intérprete em Aicnêtsixe, Existência e Para onde vai a luz quando se apaga? (2001/2009). Criou One Woman Show (2003), Visita Guiada (2005), Das coisas nascem coisas (2008), 23+1 (2010) e Vontade de Ter Vontade (2011), Vende-se país solarengo com vista para o mar, parceria com Márcia Lança (2009/10). Intérprete na peça Morro como País, encenada por John Romão (2010). Criou conjuntamente com João Samões e Mónia Mota a Associação Os Três Caracóis (2010).Tem apresentado o seu trabalho em Portugal, Espanha, Itália, Grécia, França, Bélgica, Suíça, País de Gales, Irlanda e Brasil. Atualmente, frequenta o Mestrado em Artes Cénicas, na Universidade Nova de Lisboa.