O formato “sax trio” (saxofone + contrabaixo + bateria) é uma invenção do hard bop largamente adotada pelo free jazz, sendo precisamente na interseção desses dois subgéneros do jazz que se move o Trespass Trio. Originário da Suécia e da Noruega, este projeto de Martin Küchen (saxofones alto e barítono), Per Zanussi (contrabaixo) e Raymond Strid (bateria) não se fica pela sua matriz estilística: nele reconhecemos ainda o tipo de energia identificatório do rock, como também a rítmica e até o entendimento da melodia próprios da África ancestral, objeto de estudo do líder do grupo, Küchen.
Mas não só: se muito raramente o jazz vigoroso do Trespass Trio recorre a técnicas instrumentais extensivas ou leva a improvisação para territórios mais abstratos, depressa se torna claro que os seus membros têm atividade paralela no chamado “não-idiomatismo”. Martin Küchen tem-se destacado entre os saxofonistas inovadores da escola reducionista e Raymond Strid é um dos mais curiosos criadores de texturas percussivas nos domínios da música improvisada europeia. O que tocam revela desde logo um espectro largo de possibilidades.
Ouvi-los tanto apela ao corpo, provocando o bater de pés e o abanar de cabeça do jazz mais groovy da atualidade, como nos convoca o exercício ativo da mente, numa decifração das estruturas e dos fluxos sonoros que nos envolve, enquanto ouvintes, na criação musical. Esse apelo à perceção e à consciência é reforçado pela mensagem intervencionista e de protesto transmitida pela música: Küchen é um conhecido militante da causa palestiniana e um crítico acérrimo do sionismo e da política externa dos Estados Unidos.
Não surpreende, pois, que nesta vinda a Portugal o trio se transforme num quarteto com a participação de um convidado muito especial, o americano Joe McPhee. Figura pioneira do free jazz de cunho político, aquele que se identificou com o Black Power e com as lutas emancipatórias de Martin Luther King e Malcolm X, trata-se de um dos mais fascinantes músicos dos últimos 40 anos, merecedor de um lugar na história do jazz livre, ao lado de John Coltrane, Ornette Coleman e Albert Ayler.
Situated somewhere between hard bop and free jazz, the music of the Scandinavian Trespass Trio reveals elements drawn from rock and ancestral African music, ranging from extensive instrumental techniques to more abstract forms of improvisation. Martin Küchen, the trio’s leader, is among the most innovative saxophonists of the reductionist school, while also being a militant supporter of the Palestinian cause. In Portugal, the trio will be joined by a very special guest musician, Joe McPhee, a pioneer of free jazz with a political bent, played in support of the “Black Power” movement.