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2012


CONFERÊNCIA-PERFORMANCE
Secalharidade
Uma conferência-performance de João Fiadeiro e Fernanda Eugénio
Integrado no alkantara festival
destaque
© Patrícia Almeida
SEX 1, SÁB 2, DOM 3
DE JUNHO
Pequeno Auditório
21h30 · Duração aprox.: 1h30
12€ · Até aos 30 anos: 5€
M12
Produção RE.AL Coprodução Culturgest Parceria alkantara festival
RE.AL é uma estrutura financiada pela Direção Geral das Artes e tem o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e da Fundação Gulbenkian.

Estamos aqui para tomar uma posição e para partilhá-la em com-posição, em “modo encontro”. É da matéria explicitada e re-situada deste comparecer recíproco que ambicionamos extrair uma via para resistir. Para re-existir. Uma via para contornar o estado de refém em que a lógica da representação nos encerra. Uma maneira de traí-la, apenas o suficiente para devolver o encontro ao plano do uso. Não para negá-la, nem para afirmá-la – já que as máquinas do Não e do Sim só iriam reforçá-la, mas para fazer com ela. Para retroceder ao invés de avançar, estancando a cinética moderna do saber, proliferada e agravada, hoje mais do que nunca, no vício colecionista do “isso é isto” e no loop politicamente correto do “isso é isto ou isto, ou ainda isto...” Entretenimento que nos imuniza num desperdício ad nauseum de respostas que, entretanto, se esquece de questionar a pergunta.

Condição mínima: não faltar ao acontecimento e, sobretudo, chegar atempadamente. Desarmados de respostas prévias, disponíveis para flagrar no Óbvio a emergência de uma outra pergunta. Desativar a expectativa e todos os seus duplos – desejos de controlo e manipulação – que, por norma, nos fazem chegar adiantados ao “saber” e atrasados ao “que sabe” o encontro. Ativar, no seu lugar, um estado de secalharidade, uma espera distraída de todos os parti pris, que se adensa à medida que nos empenhamos numa estimativa recíproca, numa abertura ao “acidente” do Outro. Ativar ainda, uma responsabilidade filigranar, ética do manuseamento atento, em vez da apatia, da não-comparência, de um fugir generalizado, da desistência desiludida.

Estamos aqui, pois, a propor um entre-tenimento. Um “ter com”, um sustentar recíproco do não saber. Um “deixar-se estar” o tempo suficiente para que o próprio intervalo se efetue em “e”, em relação, em alteração mútua e em alargamento de mundo. Um entre-ter que cresce e se propaga como meio. Não como meio-termo, mas como meio-ambiente.

 

O percurso de João Fiadeiro tem-no levado a aproximar-se da investigação através da arte e a distanciar-se, a uma velocidade proporcional, da criação coreográfica e do “mundo do espetáculo”. Este movimento, que ganha agora uma dimensão mais formal com a sua colaboração regular com disciplinas como as Ciências dos Sistemas Complexos, a Neurociência ou a Antropologia, esteve sempre latente quer na sua prática enquanto artista, como na forma como desenhou a RE.AL – estrutura que fundou em 1990 – à volta de projetos transversais e laboratoriais. Em qualquer dos casos a sua ambição foi sempre investigar, questionar e experimentar modalidades do “como viver juntos”. E é exatamente essa questão que o leva a encontrar a antropóloga Fernanda Eugénio que, por sua vez, se tem aproximado das artes performativas na sequência de uma crescente inquietação em relação à omnipresença do interpretativismo relativista nas práticas de produção discursiva das Ciências Sociais e àquilo que começou, cada vez mais, a lhe parecer uma neutralização da vivência etnográfica na coerência explicativa do texto e na função-autor assumida pelo investigador. O encontro entre o método de Composição em Tempo Real desenvolvido por João Fiadeiro, e a etnografia como ferramenta para performances situadas de Fernanda Eugénio, toma forma no projeto AND_Lab (do qual SECALHARIDADE é uma das suas manifestações), que se afirma enquanto plataforma de partilha de procedimentos, operações e modos de “fazer problema”, vindos tanto da arte como da ciência, na relação-tensão entre política, ética e quotidiano.

João Fiadeiro has distanced himself from choreographic creation, working with the Sciences of Complex Systems, Neuroscience and Anthropology to question different ways of “how to live together”. This led him to the anthropologist Fernanda Eugénio, herself drawn to the performing arts by her growing concern about the omnipresence of relativist interpretivism in the Social Sciences. Their encounter is embodied in the AND_Lab project, sharing procedures, operations and ways of problematising, deriving both from art and science, in the tense relationship between politics, ethics and everyday life.