As cidades nunca foram iguais mas algumas das suas caraterísticas mostraram-se, ao longo do tempo, mais constantes ou mais resilientes do que outras. No entanto tem-se a sensação de que nos últimos dois séculos, sobretudo no último e no hemisfério-norte, se assistiu a ruturas tão profundas e alternativas tão radicais que nos obrigam à reflexão crítica sobre esses resultados que ainda hoje dividem as opiniões públicas além dos especialistas. Eis alguns problemas mais críticos, não só portugueses:
Na primeira sessão, evocamos os legados da revolução industrial e comercial nos países mais avançados, confrontando-os com as mudanças dos modos de vida e das formas de urbanização: a perda sucessiva dos limites físicos, a polarização dos aglomerados centrais e as periferias cada vez mais extensivas. Em suma, o dualismo da cidade-com história e da não-cidade sem história reconhecida.
Na segunda sessão, perseguimos as mobilidades crescentes de pessoas, bens, informação e energia, causa e consequência da explosão tecnológica, fabril, agrícola e comercial que se traduziram em sucessivas redes entre e intra-cidades. A resposta urbanística mais profunda, do século XIX ao XX, reside nas malhas de espaço público que viriam a servir de suportes, funcionais e simbólicos, às diferentes formas da edificação, aos parques... ou seja, da cidade central à extensiva ou às conurbações.
Na terceira sessão, avaliamos a edificação que se diversificou em termos de funções e níveis de riqueza: da casa aos bairros, da oficina aos complexos fabris, do comércio aos grandes armazéns e escritórios, ou ainda aos equipamentos sociais, de ciência e educação ou saúde, de lazeres e espetáculos... para todos. É a habitação que constitui a maior massa construída, resultante das mudanças demográficas (saúde, emprego, migrações...) mas também dos modos e estilos de vida dos citadinos, função dos recursos e culturas que caraterizaram as classes médias crescentes. Confrontamos as formas ou modelos do habitat – casas e espaços comuns – ensaiadas na Europa e em Portugal, na 2.ª metade do século XX. Questionamos os equívocos da densidade urbana, os tipos de promoções públicas e privadas, os limites de participação dos moradores e as suas mobilidades.
Na quarta e última sessão, a questão da governança, do papel do Estado como arrumador do crescimento ou reconversão urbanos nas áreas de mudança como as “metapolis” do litoral português. O papel das “estratégias” e “planos” e a gestão local dos “projetos urbanos” e as dificuldades de compatibilização dos diferentes “estados” e destes com promotores e cidadãos. Ou seja, a crescente incerteza dos recursos e impactos, tendo presente o fator tempo – saber distinguir o que se impõe como durável e estruturante para a coletividade e o que é apenas provável, acidental ou particularizado: um planeamento a diferentes velocidades.
[Obs. Uma leitura acessível: Políticas Urbanas I e II, obra coletiva editada pela F. C. Gulbenkian]
Nuno Portas é professor Emérito da U. Porto e coordena o Laboratório de Estudos do Território da mesma universidade. Foi investigador do LNEC (1963-83) em habitação e urbanismo após ter integrado o atelier N. Teotónio Pereira participando em projetos premiados de habitação (Olivais, Restelo) e igrejas (1957-73). Exerceu funções de S. Estado nos três primeiros Governos Provisórios e de vereador na CM Gaia (1990-94). Foi Professor na ESBAL (1965-71) e, desde 1984, na FAUP até à jubilação, onde coordenou investigação teórica e aplicada em municípios da Região e ao Campus da U. Aveiro. Participou em ações internacionais da ONU, BID e EU e projetos urbanos em Espanha, Itália e Brasil. Publicou três teses e cinco volumes de artigos selecionados. Recebeu o prémio Abercrombie de Urbanismo da UIA 2005.
Nuno Travasso é arquiteto e doutorando no Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo da FAUP, sendo coautor de Políticas Urbanas II, editado pela F. C. Gulbenkian em 2011.
7 de janeiro
Heranças urbanas e mudanças dos modos de vida
Lugares e mosaicos urbanos
14 de janeiro
Atividades e mobilidades – malhas geradoras
Espaçamentos, traçados
21 de janeiro
Habitats e ecologias – limites e densidades
Tipos e modelos do edificado
28 de janeiro
(Meta)polis e governabilidades
Regulações, compromissos, empowerments.
A “obra aberta” em tempos de incerteza