Há três anos, o Teatro Maria Matos e a Culturgest apresentaram ao público lisboeta o singular teatro do húngaro Béla Pintér; agora juntam-se de novo para mostrar dois espetáculos dos STAN, nossos velhos conhecidos: primeiro Schnitzler e depois Gorki, dois clássicos do século XX abordados de formas bem distintas, mas tratando o texto e o trabalho do ator com a mesma combinação de minúcia e liberdade.
A ação da peça é espoletada pela doença e morte de Gabrielle, mulher de Wegrat e mãe de Felix e Johanna, que vem trazer ao de cima um segredo antigo. Julien Fichtner, um velho amigo da família, regressa à cidade natal que abandonara para se dedicar à sua carreira artística. Na altura, abandonara também Gabrielle, grávida de um filho seu, porém casada com Wegrat, que educaria a criança como se fosse sua. Agora, temendo a solidão da velhice que se aproxima, Julien quer finalmente revelar o segredo a Felix.
Estreada em 1904, a peça O Caminho Solitário gerou controvérsia pelo enredo centrado na mentira e no adultério, marcadamente influenciado pela psicologia, disciplina cara a Arthur Schnitzler. Os STAN não pretendem, no entanto, retratar o meio burguês da Viena do início do século XX, tendo-se antes deixado inspirar pelo universo irónico e contemporâneo do artista plástico Erwin Wurm.
O coletivo belga centra a sua leitura da peça na relação entre o ator, a personagem e o texto. Revelando um profundo trabalho de interpretação, os cinco atores distanciam-se de cada uma das personagens e centram a sua abordagem na universalidade das emoções, representando pessoas intemporais que enfrentam dilemas intemporais.
Le Chemin Solitaire é teatro como o teatro deve sempre ser: intelectualmente desafiante, engenhoso e sem medo do confronto.
Gazet van Antwerpen