O tema das freguesias de Lisboa está na ordem do dia das preocupações recentes dos responsáveis administrativos da cidade. No entanto, essa focagem tem-se centrado sobretudo sobre as esferas políticas e administrativas, deixando na penumbra (quando não no esquecimento) a evolução histórica milenar que conduziu à situação que hoje se tenta repensar.
Ora o aparecimento sucessivo das freguesias, com picos de novidade em períodos marcantes da história da cidade – como a renovação após a conquista de 1147 ou a “explosão” demográfica do século XVI –, bem como a sua evolução complexa de fusões ou alteração de órgãos merece uma atenção pormenorizada até se chegar à grande reforma pombalina de 1769/70, a última realizada antes daquela a que hoje assistimos.
São inúmeras e pertinentes as questões que o tema coloca na reflexão sobre a história da cidade, incluindo mesmo a de entender como a preocupação pós liberal, e sobretudo republicana, de separação entre os universos sacros e laicos nunca “se atreveu” a mexer na estrutura das freguesias, ainda hoje referidas às coordenadas da Igreja Católica.
Um tema, pois, que abarca a história de Lisboa numa perspetiva de longa duração, bem como ilumina algumas fragilidades de poderes sempre muito afirmativos. Ainda hoje, apesar da focagem da reforma ser essencialmente administrativa, não se prescindiu de fazer a Igreja participar, de forma expressiva, no esquema final adotado e, em especial, na nomenclatura das novas unidades. Ou seja, nunca se separou a freguesia, conceito administrativo, da paróquia, unidade do múnus religioso.
Na sequência da graduação em História de Arte (UNL), José Sarmento de Matos dedicou-se ao estudo da Arquitetura Civil de Lisboa, alargando sucessivamente a pesquisa olisipográfica a outros campos da realidade urbana. Tem publicado vários títulos sobre a evolução histórica da cidade e participado em cursos e colóquios sobre temas lisboetas.
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