Piano Eve Risser Contrabaixo Benjamin Duboc Bateria Edward Perraud
A última década tem sido um desfilar de tentativas para repor o velho formato jazzístico que envolve piano, contrabaixo e bateria, ora no seguimento dos modelos antes instituídos, ora mutando-os em profundidade. Por vezes escapando mesmo ao enquadramento idiomático do jazz, para uma maior vivencialidade dos processos da improvisação coletiva. O trio constituído por Eve Risser, Benjamin Duboc e Edward Perraud coloca-se nesta última linhagem e, pelo que se ouve em En Corps, referido pela crítica especializada como uma das pérolas discográficas de 2012, acrescenta algumas intrigantes perspetivas de evolução.
Com a utilização de preparações e inspiração em John Cage, a pianista afasta-se do legado de Bill Evans, mas não o ignora. O lirismo proposto por este torna-se abstrato e integra-se numa abordagem orgânica marcada por jogos de tensão e distensão, exploratórios, interativos e implicando uma total entrega física. Se a atitude é experimental, a pronunciada comunicabilidade do trio extravasa do palco para a audiência. Já não são apenas os músicos que se “divertem”, mas também o público. Esta é uma música que tem como propósito e causa dar-se a ouvir sem complicações nem interferências.
Esta mesma música já não se constrói em pirâmide, com o piano no topo e os restantes instrumentos cumprindo funções de acompanhamento. Basta, de resto, atentar no modo como Risser surge onde menos se espera, fazendo o que não se julga que um piano pode fazer, e como Duboc se move nas construções erigidas a três. O contrabaixista é, aliás, o pilar deste edifício móvel. Por sua vez, ele que é um reconhecido ritmista, Perraud não tem apenas por papel atirar com células rítmicas para as tramas e mantê-las vivas. Mais do que alimentar a caldeira, o baterista comenta o que vai acontecendo. Ou seja, o futuro do “trio de piano jazz” passa por esta entusiasmante proposta…
The last decade has produced a string of attempts to revive the old jazz format of piano, bass and drums, either continuing or profoundly changing already established models, and sometimes escaping the jazz framework and coming closer to collective improvisation. With its most recent and highly-rated album En Corps, the trio formed by Eve Risser, Benjamin Duboc and Edward Perraud belongs to this latter area, inspired by the music of John Cage, but not ignoring the legacy of Bill Evans. Their abstract lyricism calls for total physical commitment, being “fun” for musicians and audience alike.