Os termos “experimentalismo” e “improvisação” não fazem parte do vocabulário de David Maranha, o mais não seja porque, por um lado, segue ideias muito definidas sobre o que quer fazer e estas tem-nas já testadas e, por outro, faz questão de lidar com estruturas previamente estabelecidas. O certo é, porém, que este multi-instrumentista especialmente interessado no órgão Hammond e no violino tornou-se desde a década de 1980 numa das referências maiores do experimentalismo português e grande parte das suas criações não recorre a qualquer tipo de partituras.
O seu nome está desde sempre ligado ao coletivo Osso Exótico, cedo este se tendo tornado objeto de culto um pouco por todo o mundo, seja pela exploração de texturas abstratas como por um uso hipnótico do drone (bordões, continuuns sonoros) com referência no minimalismo de La Monte Young e Tony Conrad.
Mais recentemente, com os mesmos Osso Exótico, a solo, em formações como Curia e Dru, e em colaborações avulsas com o formato de duo ou de trio, Maranha vem prosseguindo os princípios do psicadelismo, numa música mais ritmicamente construída e com evidentes conotações rock. Com um percurso de dimensão internacional, estabeleceu parcerias com algumas das mais importantes figuras das músicas criativas, como Stephan Matthieu, Z’ev, Phill Niblock, Arnold Dreyblatt, Richard Youngs, Helena Espvall, Chris Corsano e Helge Sten, para só referir alguns.
A este rol junta-se agora o percussionista Will Guthrie, um dos mais prestigiados praticantes da improvisação na Austrália, agora radicado em França. É neste país que mantém cumplicidades com Jean-Luc Guionnet e Jérôme Noetinger, daí resultando projetos como, respetivamente, The Ames Room, com a sua nova forma de entender o free jazz, e os eletroacústicos Thymolphthalein. À semelhança de David Maranha, Guthrie tem interesses multiformes no que respeita à indução do transe por meios musicais, sendo ainda metade do duo Elwood & Guthrie, dedicado a uma muito particular visão da folk dos Apalaches.