É necessária uma boa dose de coragem para alguém se rebelar, se insurgir, se revoltar, dentro do espaço da família, da sociedade, da comunidade. Mas será a rebeldia um estado físico e mental positivo que impele para a mudança, para a revelação do engenho e da criatividade, ou revelar-se-á como o ímpeto que leva à destruição, ao caos e ao aniquilamento? Rebeldes são aqueles que, frequentemente na juventude mas também ao longo da vida, se insurgem contra o que está pré-‑estabelecido, levando as suas ideias e convicções até às últimas consequências, tanto benéficas como maléficas. O rebelde é heroico como no caso de Atticus Finch, o advogado que ousa defender um negro no tenebroso Sul de Harper Lee. Por sua vez, Raskolnikov, o assassino do romance de Dostoiévski, tem a sua própria noção distorcida e perversa de rebeldia e o gangue de raparigas no livro de Carol Oates mostra, também, os estranhos e perigosos caminhos da marginalidade. Augie March (de Bellow) e Holden Caulfield (de Salinger), através das suas experiências e ritos de passagem, são o exemplo do impulso regenerador que traz consigo a experiência e o enriquecimento existencial. Finalmente, o Prometeu de Ésquilo, duramente castigado e representante do antiquíssimo desejo de desafiar as forças divinas, tem a sua contrapartida nos textos cristãos com a figura de Eva, a transgressora maior. Por tudo isto, será possível distinguir as “boas” das “más” rebeldias? Ou será o estatuto do rebelde o documento, a marca imprescindível, que leva à incontornável mudança?
19 de setembro
À Espera no Centeio, J.D. Salinger, Ed. Quetzal, 2011
17 de outubro
As Aventuras de Augie March, Saul Bellow, Ed. Quetzal, 2010
14 de novembro
Crime e Castigo, Fiodor Dostoiévski, Ed. Presença, 2001
28 de novembro
Mataram a Cotovia, Harper Lee, Ed. Relógio D’Água, 2012
12 de dezembro
Raposas de Fogo, Joyce Carol Oates, Ed. Casa das Letras, 2011
19 de dezembro
Prometeu Agrilhoado, Ésquilo, Edições 70, 2008