Desde 2010 que o Institute of Ideas (IoI)organiza connosco um Evento Satélite de um festival de debate de ideias que anualmente promove em Londres com o nome Battle of Ideas.
Este ano vamos debater o futuro da música a partir da sua receção pelo público.
A questão será introduzida por António Pinho Vargas (compositor, músico, ensaísta, professor, doutorado em Sociologia da Cultura), Vítor Belanciano (jornalista, crítico cultural, ensaísta, professor, doutorando em Sociologia) e Ivan Heweet, crítico musical do Daily Telegraph, compositor, professor. O debate, que se estenderá ao público, será moderado por Angus Kennedy, responsável pelas relações externas do IoI, do festival Battle of Ideas e seus eventos satélite.
O debate terá como ponto de partida o texto seguinte:
O futuro da música: está alguém a ouvir?
Nunca como hoje se produziu e ouviu tanta música. O desenvolvimento da tecnologia digital tornou mais fácil compor e consumir música em todo o lado: no iPod; com auscultadores no trabalho; em streaming em casa; para não falar dos elevadores, centros comerciais, aeroportos e restaurantes. Toda a música do mundo, clássica e popular, está à distância de um clique e muita dela de graça. O que significam estas mudanças relativamente à forma como ouvimos música? Estará a duração da nossa atenção a tornar-se mesmo mais curta? Estará o público da música a fragmentar-se ao mesmo tempo que os consumidores se tornam os novos decisores do gosto? Ainda gastamos o tempo para realmente ouvir? E, quando o fazemos, estamos a ouvir alguma coisa nova?
Poderá pensar-se que a facilidade em consumir música tende a significar que só vende o que se conhece bem ou o que é massivamente publicitado e que o menos conhecido ou mais fora do comum não vende e é muito pouco ouvido. A música clássica continua a atrair público para as salas de concertos e os teatros de ópera, mas muitas vezes os programadores jogam pelo seguro. De facto, o cânone parece um assunto arrumado: ouvimos uma e outra vez os mesmos poucos “grandes” (o que é que resulta além desses?) enquanto novas peças são muitas vezes tocadas uma única vez ou, no máximo, algumas, poucas, vezes. A música popular, apesar de atrair grandes audiências, está cada vez mais fragmentada em géneros e estilos de tal modo que cada público setorial (exceção feita às superestrelas globais) muitas vezes não é suficiente para a tornar rentável. Tende a sofrer, pois, do mesmo problema: o que vende, vende e tendemos a ouvir muito pouco do resto. Os festivais de música são, claro, grandes negócios (o que alguns dirão que é metade do problema) mas as pessoas frequentam-nos por muitas mais razões do que para ouvir música.
Atualmente a música clássica não mede esforços para atrair novos públicos: muitas vezes partindo do princípio de que os jovens só gostarão de música que seja de alguma forma “relevante” para a sua experiência ou de que a sala de concertos é demasiado ameaçadora e sentar-se e ouvir em silêncio é demasiado exigente. No Reino Unido a BBC Radio 3 é agora acusada de baixar a fasquia ao permitir que a programação seja determinada por pedidos pelo telefone. Há discos lucrativos com as árias de maior sucesso que começam a ser apresentados ao vivo. Haverá o perigo de que em público escutemos os mesmos velhos temas de vez em quando, mas em privado oiçamos o tempo todo mas nunca dando o nosso tempo à música – está sempre ligada, mas apenas como música de fundo? A tecnologia é o único fator nestas mudanças ou perdemos a faculdade de julgar o que é bom e o que não o é, num sentido cultural alargado? O que conduz a confiar nos grandes êxitos, no que é seguro, num cânone imutável? Estamos a tornar-nos indiferentes ao que ouvimos? O nosso tempo é um tempo de abundância superficial e de públicos que diminuem, em que a música é frequentemente louvada mas raramente venerada – “fantástica!” mas nunca Grande. Qual é então o futuro da música?
Today more music is being produced and listened to than ever before. The development of digital technology has made it easier to become a composer as well as to consume music everywhere: on your iPod; headphones at work; streamed through your house; let alone in elevators, shopping malls, airports and restaurants. All the world’s music, classical and popular, is pretty much just a click away and much of it is free. What do these changes mean for the way we listen to music? Are our attention spans really getting shorter? Are audiences for music fragmenting as consumers become the new arbiters of taste? Do we take the time anymore to really listen? And, when we do, are we listening to anything new?
It can appear that the ease of consuming music tends to mean that only the well-known or mass-marketed sells and the less well-known or unusual does not sell and goes largely unheard. Classical music still attracts an audience to concert halls and opera houses but often programmers tend to play it safe. In fact the canon seems largely set in stone: we listen again and again to the same few ‘greats’ (what else pays?) while new pieces are often performed only once or a few times at most. Popular music, despite commanding huge audiences, is increasingly so fragmented in genre and style that each individual audience (apart from global superstars) is often not big enough to make it economical. It tends to suffer, therefore, from the same problem: what sells sells and we tend to hear little else. Music festivals are big business of course (which some might say is half the problem) but people attend them for many more reasons than to listen to music.
Classical music now goes out of its way to attract new audiences: often assuming that young people will only like music somehow ‘relevant’ to their experience or that concert halls are too forbidding and the requirement to sit and listen in silence just too demanding. In the UK BBC Radio 3 is now accused of dumbing down by allowing programming to be dictated by phone-in requests. Profitable recordings of selected ‘greatest hit’ arias are starting to be performed in public. Is there a danger that in public we listen to the same old things once in a while; but in private we listen all the time but never give our time up to the music – it’s always on but only in the background? Is technology the only factor in these changes or have we lost the ability to judge what is good and what is not in a broader cultural sense? Leading to a reliance on the greatest hit, what's safe, a canon set in stone? Are we becoming indifferent to what we hear? Ours is an age of superficial abundance and shrinking audiences, in which music is frequently lauded but rarely revered – "great!", just not Great. So just what is the future for music?