Se o jazz da Eslovénia continua a ser um mistério para os amantes do género em Portugal, um nome em plena ascensão na cena de Ljubljana começa a ser reconhecido entre nós, o da pianista Kaja Draksler. Aconteceu tal devido às suas passagens pelo nosso país com a European Movement Orchestra e graças ao duo que formou com a trompetista Susana Santos Silva. Agora teremos a oportunidade de a ouvir a solo, formato em que, naturalmente, melhor expressa as suas muito pessoais ideias.
Mesmo para quem já a ouviu nas situações que a trouxeram ao nosso convívio, este seu regresso constituirá uma magnífica surpresa, comprovando a fama que conquistou na ex-Jugoslávia e na Holanda, a sua segunda casa, e que está a conseguir um pouco por toda a Europa. A sua música cruza a tradição e a contemporaneidade do jazz, o que quer dizer que, se tem as raízes bem alicerçadas na história, os ramos estendem-se até à vanguarda – entre a base e a folhagem reconhecemos, por exemplo, as influências de Thelonious Monk e Cecil Taylor. Transparecem igualmente nas tramas que compõe e improvisa elementos da sua formação clássica, com especiais devoções por Bach, Chopin e Cage, bem como referências ao folclore esloveno e aos sons das regiões limítrofes, com particular apreço pelos da Turquia.
Nascida em 1987 numa aldeia rural, fez os seus estudos na Escola Secundária de Música de Ljubljana e completou-os no Conservatório Príncipe Claus de Groningen, na Holanda, tendo entre os seus professores Michael Moore e David Berkman. Uma estadia nos Estados Unidos permitiu-lhe ainda estudar com os pianistas Vijay Iyer e Jason Moran. Os seus primeiros projetos profissionais denotaram de imediato um entendimento inconformista do jazz, como foram os casos do Trio K4, que trabalhava com atores e poetas, a Katarchestra, que tinha como propósito dar uma nova vida a melodias populares europeias, e o quinteto Suna, que misturava o jazz com a música dos Balcãs.
Com esta apresentação em Lisboa, teremos a oportunidade de assistir a mais um momento do processo de evolução de uma jovem pianista que, com toda a certeza, será validada num futuro já próximo como um fenómeno de criatividade.