Em 1994, Rui Toscano (Lisboa, 1970) produziu uma escultura sonora que se viria a revelar determinante no desenvolvimento da sua prática artística nos anos subsequentes. Bricks are Heavy, assim se intitulava, inaugurou uma genealogia de obras em que o artista utiliza o radiogravador simultaneamente como elemento escultórico e como sistema de amplificação sonora. O radiogravador era, já em meados da década de 1990, um objeto obsoleto, em vias de desaparecimento, e isso tornou cada vez mais difícil, mas não impediu, o desenvolvimento deste corpo de trabalhos, como comprovam duas novas esculturas sonoras, uma delas projetada há dez anos.
A referência à cultura rock, e por essa via a uma determinada cultura juvenil que o artista perfilhava, estava muito presente nas duas primeiras dessas peças – também em (...They Say We’re Generation X But I Say We’re Generation Fuck You!), de 1995. Mas o que persiste em todas elas, e que poucos terão notado na década de 1990, é uma muito particular reativação da linguagem formal característica da escultura minimalista a partir de premissas, atitudes e questões estranhas a essa tradição. Rui Toscano elabora quadros de experiência e de sentido a partir do cruzamento entre formas simples, minimais, e ocorrências sonoras através das quais o real e a representação irrompem. A esta dimensão discursiva alia-se, frequentemente, uma dimensão autorreferencial da obra de arte.