É um encontro de gerações, este que reúne o japonês Akira Sakata e o italiano Giovanni Di Domenico, nascidos respetivamente em 1945 e 1977. E se não há propriamente um fosso a separá-los que lhes torne impossível o diálogo, é porque a linguagem que utilizam – a da improvisação – é uma epidérmica resposta a um entorno social, político, económico e cultural que ganhou dimensões planetárias, nivelando por baixo as diferenças.
O nome Akira Sakata tem dimensão de lenda: foi um pioneiro do free jazz no Japão e um dos primeiros daquele país a mostrar no exterior que havia uma forma nipónica específica de tocar o jazz da liberdade. A sua associação a Manfred Schoof e a presença nos principais festivais europeus nos anos 1970 internacionalizaram-no definitivamente. Depois veio o jazz de fusão, muito graças à sua associação com Bill Laswell, que o aproximou do rock e da chamada world music.
Quando a sua atividade paralela como biólogo marinho parecia tê-lo absorvido, voltou às lides no dealbar do terceiro milénio com novas parcerias, a exemplo das firmadas com Jim O’Rourke e Chris Corsano, músicos com investimentos idiomáticos plurais e menor idade, que lhe permitiam apostar na renovação da sua própria linguagem. Finalmente, encontrou pelo caminho o ainda mais jovem Giovanni Di Domenico.
Este representa bem um novo tipo de improvisador que integra uma imensa variedade de influências num estilo sincrético, e daí que o encontremos habitualmente com instrumentistas de semelhante perfil como Nate Wooley, Arve Henriksen e Tetuzi Akiyama. O duo do pianista transalpino com um peso pesado do jazz significa, pois, um desafio muito especial, mas o certo é que não se coloca na sombra de Akira Sakata – este é um encontro entre iguais, e por isso o disco que gravaram juntos intitula-se Iruman, palavra japonesa derivada do Português “irmão”.