É um dado largamente difundido e verificado – embora não universalmente reconhecido – que a esperança de vida aumentou exponencialmente, nas últimas décadas. Um largo número de pessoas no planeta, com idade avançada, vivem mais intensamente e, os que podem, aproveitam com avidez esse tempo extra que lhes é proporcionado. Rembrandt foi um dos artistas que pintou a idade madura com mais nobreza e poder, evidenciando a dignidade da senescência.
Encontrar-se-á este fenómeno, também, na Literatura? Será possível criar heróis e heroínas trôpegos, senis, distraídos, engelhados, confusos? Ou ficámo-nos com a ideia romântica, recuperada na década de 50 do século XX, da eterna e solar juventude – por isso era tão importante morrer cedo – dos corpos sem mácula dos jovens efebos e das donzelas sensuais e voluptuosas?
As obras que propomos para este ciclo colocam estas e outras questões: da estranha simetria entre o livro de Banville e o de Schlink, com as óbvias distâncias, à meditação sobre a glória e a inveja ironicamente tratadas por Lodge, na sua recriação do ocaso de Henry James, recuperadas ainda por Bellow, em Ravelstein; da trágica e cómica situação de Edna, no livro de Savage, ao conflito de gerações e hábil trama do curto romance de Welty, tudo leva a crer que este território da ficção, das memórias e da biografia romanceada (Autor, Autor) é digno de análise e de discussão.
Helena Vasconcelos
16 de janeiro
Luz Antiga, John Banville, ed. Porto Editora
23 de janeiro
Recordações de Edna, Sam Savage, ed. Planeta
13 de fevereiro
Autor, Autor, David Lodge, ed. Asa
20 de fevereiro
A Filha do Optimista, Eudora Welty, ed. Relógio D’Água
13 de março
Ravelstein, Saul Bellow, ed. Quetzal
20 de março
O Leitor, Bernhard Schlink, ed. Asa