Em julho de 2009, a revista The Economist fazia capa com a pergunta “O que correu mal com a Ciência Economia?” e ilustrava-a com uma imagem de um manual intitulado “Moderna Teoria Económica” a derreter-se sob o efeito das ondas de calor da crise.
A “Moderna Teoria Económica” a que The Economist se referia é uma espécie de engenharia dos mercados. No passado esta engenharia representava apenas uma entre várias correntes do pensamento económico, mas nos últimos trinta anos tornou-se dominante no ensino da disciplina em todo o mundo, passando a ser confundida com a própria Economia. Interrogando-se sobre o que correu mal com a “Moderna Teoria Económica”, The Economist dava expressão à perceção pública de que esta Economia e os economistas eram responsáveis de alguma forma pela crise.
Pode uma ciência social ser responsável por uma crise social? Quando se transforma numa engenharia, pode. A “Moderna Teoria Económica” mais do que compreender o mundo tem participado ativamente na construção desse mundo. Tem-no feito influenciando as políticas e por essa via transformando as instituições, condicionando os comportamentos e modificando os valores.
Cinco anos passados deste número da The Economist a reputação da Economia e dos economistas não se recompôs. No entanto, a sua engenharia continua a ser influente, determinante mesmo das políticas de reparação dos estragos que ela própria originou. É assim porque no mundo que esta engenharia ajudou a construir a economia tende a ser confundida com a natureza.
José Castro Caldas é doutorado em Economia. Atualmente é investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES).
Anteriormente foi professor do Departamento de Economia do ISCTE. Os seus principais interesses de investigação atuais incluem a deliberação individual e coletiva, a economia institucionalista e a história da economia.
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