Esta conversa/debate parte de um
texto da escritora Hélia Correia (publicado no suplemento “Ípsilon” do jornal
Público, em 17/1/2014), intitulado “Com respeito às palavras”. Nesse texto refletia-se sobre o modo como a linguagem do poder político e económico com que estamos confrontados corresponde a uma “fraseologia” que corrompe e atrofia o pensamento e nos expropria da linguagem. A necessidade de proceder a uma crítica deste processo de expropriação tornou-se urgente e nenhum comentário político, tal como ele é hoje geralmente praticado, consegue ter uma dimensão crítica se dele desaparecer a consciência de que há uma responsabilidade fundamental do homem em relação à linguagem e se ignorar que estamos mergulhados em algo que faz lembrar a “novilíngua” imaginada por Orwell. A propósito dela, já alguns cientistas sociais falaram de um “novo fascismo”, diferente dos fascismos históricos: trata-se de um “fascismo democrático”, que não vem de cima, não precisa de um guia ou de um chefe, mas é produzido no próprio tecido das interações sociais e tem como um dos seus principais instrumentos precisamente essa linguagem corrompida. Esta linguagem de uma nova teologia económica e política impõe modos de pensamento, estereótipos, formas estandardizadas. E tem um efeito de anestesia de todo o discurso crítico.
This talk/discussion will be based on an article by the writer Hélia Correia (published in the supplement “Ípsilon” of the daily newspaper Público, on 17/1/2014), entitled “Com respeito às palavras” (With respect for words). The text considered how the language used by the political and economic power that we are faced with today corresponds to a “phraseology” that corrupts and atrophies our way of thinking and expropriates our language. There is now an urgent need to produce a critique of this expropriation process, and no political commentary, such as this is practised nowadays, will ever succeed in having a critical dimension if it loses awareness of man’s fundamental responsibility towards language and fails to see that we are immersed in something that is reminiscent of the “Newspeak” imagined by Orwell. In relation to this question, some social scientists have spoken of a “new fascism” that is different from other historical fascisms: this is a “democratic fascism”, which does not come from above, does not need a guide or a leader. Instead, it is produced within the very fabric of social interactions and one of its main instruments is precisely this corrupted language. This language of a new economic and political theology imposes certain ways of thinking, stereotypes and standardised forms. And it has the effect of anaesthetising all critical discourse.