Frédéric Back nasceu em 8 de abril de 1924 numa aldeia dos arrabaldes de Saarbrücken, na região do Sarre, nesse tempo território francês. Assim que começou a andar, começou também a desenhar com tudo o que apanhava à mão, e por esses anos nasceram duas das suas grandes paixões – música e animais.
Quando chegou o tempo de escolher os seus estudos, Back sabia que era através do desenho que mais facilmente se exprimia. Tirou um curso de litografia na Écolle Estienne, em Paris, e dois anos depois foi estudar para a Escola de Belas-Artes de Rennes, onde encontrou um professor que já muito admirava como artista gravador e que teve enorme influência na sua formação, Mathurin Méheut. Com Méheut aprendeu a observar o mundo de perto e a desenhar pessoas e animais em movimento, ilustrando frequentemente as relações dos humanos com a terra e os animais.
Acabados os estudos, fez longas viagens, sempre pintando, sobretudo paisagens. Em 1948 fixou-se em North Sidney no Canadá e começou a trabalhar para a Radio-Canada onde ficou até ao fim da sua carreira. Os seus filmes de animação são verdadeiros manifestos a favor da proteção da Natureza e da alteração de comportamento dos homens e da economia, que põe em perigo “este paraíso terrestre”. A sua profunda militância exprimiu-se também de outras formas – fazendo conferências, participando em manifestações, fundando a Société Québécoise pour la Défense des Animaux. Os seus filmes foram nomeados quatro vezes para os Óscares, e por duas vezes venceu. Recebeu as maiores honras no seu país e deixou-nos na véspera de Natal do ano passado.
1ª Sessão · 15h
Abracadabra (1970)
Duração: 9'20'', sem palavras
Abracadabra é a história de quatro crianças de diferentes continentes que formam um grupo para encontrar o sol e ajudá-lo a soltar-se da prisão dum feiticeiro mau. É um conto alegórico chamando a atenção para os perigos de exaustão de uma fonte natural indispensável, aqui representada pelo sol.
Inon Ou La Conquête du Feu (1972)
Inon Ou A Conquista do Fogo
Duração: 9'35'', em inglês, com legendas em português
Este filme aborda um tema universal: a busca do fogo. Inspirado numa lenda dos Algonquin (povo nativo no noroeste da América do Norte), o fogo é guardado por Inon, o Deus dos Trovões, para que a humanidade não lhe tenha acesso. Os animais unem-se e vão tirar o fogo ao deus para o dar aos seus irmãos humanos. A história passa-se num tempo em que humanos e animais se compreendiam uns aos outros e viviam em harmonia com a natureza.
La Création des Oiseaux (1972)
A Criação dos Pássaros
Duração: 10'4'', sem palavras
A história do filme é inspirada em lendas ameríndias sobre o ciclo das estações. O bonito dia de verão termina subitamente quando as crianças fogem do Lobo Uivante, o vento terrível do frio. Abrigam-se na floresta. O Lobo Uivante despe as árvores das suas belas folhas coloridas mas não consegue encontrar as crianças, escondidas entre as plantas de folhas perenes. Por isso, junta forças com o Urso Branco, a neve, para os atingir com jatos de neve. Extenuada pelo frio, uma rapariguinha implora a Glooscap, o grande Manitou, para trazer de novo o tempo quente. Glooscap ordena ao Sol que afaste o Lobo Uivante e o Urso Branco. A seguir sopra vida nas folhas mortas, transformando-as em coloridos pássaros que enchem o ar com os seus cantos.
The Mighty River (1993)
O Rio Enorme
Duração: 24', em inglês, com legendas em português
A água limpa, essencial a todas as formas de vida, está a tornar-se cada vez mais rara. Como a desflorestação, a perda de água limpa é uma tragédia global. No seguimento do sucesso internacional do filme O homem que plantava árvores (a ser projetado na sessão das 16h30), que ganhou um Óscar e levou a que se plantassem milhões de árvores, Frédéric Back decidiu fazer um filme sobre o St. Lawrence River (Rio São Lourenço). "Magtogoek", como é chamado pelo povo Mi'kmaq, nasce nos Grande Lagos, segue um extenso percurso através de Ontário e Quebeque e desagua no Atlântico. As suas águas, que antes abundavam de animais e plantas, hoje suportam as consequências de décadas de sobre-exploração e poluição industrial. Aliás, todos os rios do mundo sofrem o mesmo destino! Ao lançar-se neste grande projeto de cinema de animação, o realizador, um ativista da defesa do ambiente, esperava que a riqueza do filme, oferecendo informação surpreendente sobre o St. Lawrence River e o seu passado glorioso, suscitasse uma maior consciência dos problemas existente e inspirasse ações concretas para salvar esta e outras fontes naturais muito degradadas.
Crac! (1981)
Duração: 15', sem palavras
Crac! revela a rápida transformação da sociedade do Quebeque através da história de uma cadeira de baloiço. Neste fascinante conto, com uma leve nostalgia, Back leva-nos ao tempo das ricas tradições varridas pelas forças implacáveis do progresso e da urbanização. Crac! é o som da árvore que cai, derrubada pelo machado e transformada em cadeira. É o som da cadeira quando baloiça. É também o som das brechas nas nossas vidas quando as mudanças ocorrem muito rapidamente. Crac! é o tributo de Frédéric Back ao Quebeque, a sua casa adotiva, e à cultura da sua mulher e do seu filho. Com este filme Back, e a produtora Radio-Canada, receberam o seu primeiro Óscar, em 1982.
2ª Sessão · 16h30
Illusion? (1975)
Ilusão?
Duração: 11'30'', sem palavras
"Qualquer ser vivo que partilha o mundo connosco teve que se adaptar e evoluir durante milhões de anos. Cada flor, cada inseto, cada animal é um milagre que espera para ser descoberto, uma maravilha para ser respeitada e amada. Mas gostamos de os substituir pelas nossas próprias invenções, servidas pelos mágicos da publicidade, os promotores do progresso e do consumismo. Infelizmente estas invenções ficam fora de moda muito depressa. Avariam-se, muitas vezes levando consigo o que é essencial à nossa vida e felicidade, os elementos necessários para sustentar os verdadeiros milagres produzidos pela natureza".
Frédéric Back
Taratata (1977)
Duração: 8'30'', sem palavras
"Taratata é uma homenagem aos cortejos que se costumavam realizar no dia de São João Batista, o feriado nacional do Quebeque. Estes cortejos eram uma ocasião de honrar valores tradicionais ou demonstrar progresso através de carros alegóricos. Realizados todos os anos em 24 de junho em aldeias e cidades por todo o Quebeque, proporcionavam aos músicos e bandas locais a oportunidade de mostrar os seus talentos. As crianças adoravam os que desfilavam nos seus esplêndidos uniformes. O dia acabava com um grande fogo de artifício. Eu quis evocar mais uma vez esta celebração popular, enfatizando o que era encantador, ridículo ou pretensioso".
Frédéric Back
All Nothing (1978)
Tudo Nada
Duração: 11'30'', sem palavras
O filme All Nothing é uma alegoria que retrata o desejo da humanidade de se apropriar de toda a beleza e recursos da natureza. Por demasiado tempo cometemos o erro de acreditar que o mundo tinha sido criado inteiramente para nosso benefício. Como se extinguiram incontáveis espécies de plantas e animais, pouco resta ao nosso planeta para nos dar: água limpa e luxuriantes florestas são cada vez mais raras. O filme termina, todavia, com uma nota positiva: Frédéric Back acalenta a esperança de que as futuras gerações descobrirão a alegria de partilhar e a importância de viver em harmonia com a natureza.
The Man Who Planted Trees (1987)
O Homem Que Plantava Árvores
Duração: 30', em inglês, com legendas em português
O Óscar que ganhou com Crac! permitiu a Frédéric Back realizar o seu sonho de transportar para o écran a história maravilhosa de Jean Giono, O Homem que plantava árvores. De uma maneira mais refinada, a sua mensagem ambiental e a sua filosofia de vida refletem as preocupações já patentes nos seus anteriores filmes. As sementes que o pastor planta são símbolos de todas as nossas ações, boas e más, que têm enormes consequências que mal conseguimos imaginar. Compete-nos pensar e agir de acordo com as nossas expectativas de futuro e, se possível, deixar para os que ficam depois de nós um mundo mais belo e prometedor do que aquele que herdámos.