Mais tarde ou mais cedo haveria de acontecer. Ao longo dos anos, instalou-se em Portugal uma clivagem entre as duas práticas dominantes da improvisação musical. De um lado reuniram-se os praticantes do chamado mainstream do jazz, mesmo que o jazz tocado não fosse propriamente "clássico", e do outro ficaram aqueles músicos que entenderam os conceitos de "vanguarda" e de "experimentalismo" como sendo a chave para uma abordagem mais criativa – ainda que, em certos casos, assim não resultasse.
Até que os saltos entre as duas margens foram-se tornando frequentes e quem saltava tinha já um percurso e um nome que denotavam que tais atrevimentos não surgiam ao acaso. Uma dessas figuras tem sido o baterista e compositor João Lencastre. Neste trio dedicado a uma improvisação livre em que «todo o tipo de cores e texturas pode acontecer», encontramos Lencastre com o pianista checo Vojtech Prochazka e o contrabaixista argentino, mas residente em Portugal, Demian Cabaud, eles também apostados em dissolver divisões artificiais. É o campo todo do jazz que está nas suas mãos, sem tabus nem muros de Berlim. Promete…