Rashad Becker construiu um nome para si, no circuito dos audiófilos devotos à música eletrónica de dança e experimental produzida na última década e meia, devido ao manancial de discos marcantes neste campo a que tem vindo a emprestar os seus méritos enquanto engenheiro de som responsável pelo corte e masterização de vinil na Dubplates & Mastering, em Berlim, a empresa iniciada em 1995 pela editora Basic Channel. Becker iniciou-se na década de 80 a fazer música com experiências de colagem em fita áudio, começando também a gravar outros amigos e músicos pelos 16 anos. Depois avançou para interesses diferentes – esteve numa escola de Belas-Artes, assegura ter formação em assistência de emergência médica – mas regressou a trabalhos de desenho de som ao vivo em teatros e, mais tarde, em montagem em cinema. Custa a acreditar mas só no ano passado viu publicado o seu primeiro longa duração, o notável Traditional Music of Notional Species Vol. I na editora PAN. Com faixas divididas no seu título entre Dances e Themes, é um compêndio de arrojadas e inovadoras construções sonoras, moldando sons eletrónicos assertivos e de ambígua referencialidade, em formas orgânicas sedutoras e ferozes. Música que parece informada pela questão fraturante do entendimento cartesiano de tempo e espaço, revolvendo sobre o ângulo conceptual do nome do seu disco, numa narrativa sintética abstrata que parece ter ressoado com uma generosa fatia da crítica e do público, conquistando para si um estatuto singular e inspirador no panorama da eletrónica contemporânea, em estreia nacional na Culturgest Porto.
Filho Único