O trio Lama tem logo à partida uma caracterização transnacional. Português de nascimento, é na Holanda que Gonçalo Almeida, o mentor do grupo e seu principal compositor, tem a sua base de trabalho. Se se pode dizer que este é o investimento mais lusitano do contrabaixista, graças à presença de Susana Santos Silva e ao facto de a sua discografia estar a ser editada pela lisboeta Clean Feed, o certo é que o terceiro vértice do projeto é ocupado pelo canadiano Greg Smith, que calha também ter residência nos Países Baixos. Para reforçar esta vertente globalizante, a formação vem envolvendo alguns convidados de outras origens. Foi assim com o norte-americano Chris Speed e volta a ser com o belga Joachim Badenhorst.
Em termos estéticos, Lama está na fronteira entre o mainstream e a vanguarda do jazz. Reproduz os conceitos harmónicos convencionais do género, mas incorpora igualmente a liberdade da improvisação, o gosto pelas texturas abstratas e as cores extensivas proporcionadas pelo uso da eletrónica. Se o contributo de Speed derivava do primeiro âmbito, beneficiando da frescura de ideias do saxofonista e clarinetista, o de Badenhorst vem do segundo, com a particularidade de este ter uma voz pessoal fortemente enraizada na tradição. Mudam os conteúdos, mas não os parâmetros.