É sempre um risco quando se adota um instrumentário tão "clássico" quanto o do duo de um piano com um sopro. Ainda que continue a ser possível fazer algo de criativo e novo com este modelo secular, o certo é que as suas coordenadas originais – as da música erudita antes mesmo das do jazz propriamente dito – se impõem sempre, e com naturalidade. Giovanni di Domenico e Alexandra Grimal não fogem a esse enquadramento neste projeto conjunto e é por isso que a música que propõem tem uma clara carga camerística.
O que podia ser uma limitação formal eles transformam num jogo de exploração de possibilidades. Instrumentistas e compositores de jazz com formação académica que também são conhecidos pelas suas incursões na música livremente improvisada, decidiram-se ambos a definir um jogo entre o escrito e o tocado espontaneamente que salta para fora das margens estabelecidas.
Nascida no Cairo em 1980, a saxofonista (tenor e soprano) Alexandra Grimal tem repartido a sua atividade entre projetos próprios, a exemplo do seu grupo Naga (com nomes como Marc Ducret e Benoît Delbecq), e de terceiros, destacando-se o tenteto Can You Hear Me? de Joelle Léandre e a Orchestre National de Jazz sob a direção de Olivier Benoit. Pelo caminho, trabalhou com músicos tão diversos quanto Thomas Morgan, Tyshawn Sorey, Lee Konitz, Gary Peacock, Paul Motian, Benjamin Duboc, François Tusques, Jean-Jacques Birgé ou o português João Lobo.
Natural de Roma (1977), mas com a infância passada em países como a Líbia e a Argélia, Giovanni di Domenico é o menos previsível dos pianistas, não surpreendendo, pois, a sua inclusão no coletivo Trance Mission, do marroquino Hassan El Gadiri. Os sons do Norte de África e do Médio-Oriente estão tão imbuídos no seu estilo pessoal quanto a música de Debussy ou Berio e as influências que recebeu de Cecil Taylor e Borah Bergman. Ao longo do seu trajeto tem colaborado com figuras conhecidas pela sua atitude experimental, como Nate Wooley, Chris Corsano, Arve Henriksen, Jim O'Rourke e Toshimaru Nakamura.